1
Este cordel vai contar
A história de Geoconda
Garota meiga e querida
Que foi levada pela onda
É uma coisa complicada
Que a barriga arredonda
2
Geoconda era normal
Ia pra escola com alegria
Brincava com seus amigos
Era tanta harmonia
Oh Menina estudiosa
Muita coisa ela sabia
3
Um dia a professora disse
Geoconda você vai bem
Em quase toda matéria
Está com a média cem
Faça tudo direitinho
Que você vai muito além
4
Estamos na 8ª série
Depois é segundo grau
Você só tem 13 anos
Está tudo bem normal
Nossa senhora te ajude
E o pai celestial
5
A estudante emocionada
A professora abraçou
Seus colegas aplaudiram
A classe se emocionou
Era só mais alguns meses
E o ano se acabou
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Geoconda foi se sentar
Pra aula dar seguimento
Quando arrastou a cadeira
Para ela ir tomando assento
Se escutou um forte barulho
Que causou constrangimento
7
Era a farda de Geoconda
Que rasgava o cosimento
Escondendo a gravidez
Ai meu deus que tormento
A professora pediu calma
Muita calma no momento
8
Disse pro resto da turma
Vira outra professora
Pois vou levar Geoconda
Pra falar com a diretora
Se a gente demorar muito
O resto da roupa estoura
9
Pegou na mão da menina
Pelo corredor dizia
Apertaste tanto a roupa
Com mais tempo tu morria
A professora perguntou
Se a mãe dela sabia
10
Mas em estado de choque
Geoconda nada dizia
E foram as duas chorando
Até a diretoria
A diretora foi dizendo
Ai meu Deus que agonia
11
Esses meninos de hoje
É tudo sem paciência
Com treze anos de idade
Acabam com a adolescência
Eu acho que hoje em dia
É chato ter inocência
12
O sermão foi muito longo
Demorou pra terminar
Se a gente for contar tudo
O cordel vai se alongar
Vamos logo pros finalmente
Pois o tempo vai passar
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E então disse a diretora
Se os pais dela não sabem
Encarrego á professora
De levar esta mensagem
Sua missão ela é difícil
Mas Jesus lhe dá coragem
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Vai ser bem desagradável
Pra Luzia e seu Zezinho
São os pais desta garota
Moradores do Campinho
Já olhei na ficha dela
O endereço está certinho
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Geoconda cabisbaixa
Saiu da secretaria
Estava envergonhada
Não sabia o que fazia
Sua mãe ia ter era um troço
Coitadinha só tremia
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Disse tu tas gorda filha
O que foi que tu fizeste
Chega assim toda rasgada
Faz regime que emagrece
A filha disse pra mãe
Se eu falar tu enlouquece
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Então tu tas é buchuda
Daquele fio duma peste
Por isso eu tava notando
Que sempre que escurece
Tu larga a lição de casa
E o morro abaixo desce
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Pras bandas da Beija -flor
Pra se encontrar com Alex
Cabra safado quando anda
A cueca dele aparece
Onde tas com a cabeça
Aquilo nem homem parece
19
Ele só tem quinze anos
E vai sobrá é para eu
Tu num frita nem um ovo
Geoconda tu enlouqueceu
Quando Zezinho chegar
Ele vai te dar o teu
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Ai meu Deus me acuda
Pobrezinho do teu pai
Trabalhando na pescaria
Pra ganhar vinte reai
Agora tamo perdido
O que é que nos faz
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A professora notou
Que a escola ali era pouca
A mãe falava tanto
Que a voz já tava rouca
E acabou confessando
Que vivia lavando roupa
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E nunca sobrava tempo
Para ela ver o andamento
Da educação dos meninos
Disse com acanhamento
Tenho parcela de culpa
No triste acontecimento
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A professora virou as costas
E foi pra casa depressiva
Pesando em achar um jeito
Encontrar uma saída
Pois tinha muita menina
Que ia tomando iniciativa
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Para trás ficou a família
E o abacaxi para descascar
A professora sabia
Ela não ia mais estudar
Pelo menos é o que diz
A estatística escolar
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Quando dá noticia
Da grande evasão que se dá
Pois adolescente que engravida
Dificilmente volta a estudar
Tem que cuidar do menino
Até ele poder andar
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Muitas garotas passam
Por momentos de amargar
Trabalham em subempregos
Pro rebento sustentar
Já que na maioria dos casos
O pai nem quer se importar
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Os médicos também falam
Que a gravidez precoce
Mata muita adolescente
A bacia não tem suporte
E a sociedade nem liga
Pra elas o nariz torce
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Sem preparo psicológico
Em nosso mundo industrial
Ficam fora do padrão
Da sociedade atual
E vão engrossar as filas
Da assistência social
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Nas famílias de baixa renda
Vira saco de pancada
Em muitos casos as coitadas
Pra rua ela é mandada
Porta aberta para as drogas
Prostituição e mais nada
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Aborto clandestino
Em pesquisa documentada
Encabeça a lista de óbitos
A professora arrepiada
Rezou logo um pai nosso
Pra sentir-se aliviada
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Prometeu fazer uns versos
Pra conscientizar a moçada
Sobre tudo que acontece
Com mocinha desavisada
Que vai logo pros finalmente
E se entrega pro camarada
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Abram seus olhos garotas
E não caíam na besteira
Pois vacilar com coisa séria
Compromete a vida inteira
Esse negocio de engravidar
Não é só uma brincadeira
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E as garotas serão
Prejudicado demais
Nossa sociedade é assim
Rapaz é sempre rapaz
Parece até que ter filhos
Mostra que ele é capaz
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