quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
"Clarisvânia “ uma aluna inteligente demais
1
Só Deus para ajudar
Nessa grande confusão
Pois uma aluna inteligente
Que estudava lição
Só tirava nota baixa
Veja que perturbação
2
Maldade ou ignorância
Num sertão desse Brasil
Onde certa professora
Quase quase destruiu
O futuro de uma aluna
Uma vida estudantil
3
Mas mentira sempre perde
A verdade sempre ganha
E no final dessa história
Que parece tão estranha
Veremos que triunfará
A aluna Clarisvânia
4
O oficio de ensinador
Não é para qualquer um
Não é por necessidade
Tome currículo pá-pum!
Ensinar é uma missão
A lição número um
5
Quem se mete a professor
Quando não tem vocação
O que faz é trapalhada
Bota o pé pela mão
Comete muita injustiça
Como nesta ocasião
6
Que uma professora ingrata
Sem miolo na cachola
Dava muita nota ruim
Para todos na escola
Até se o cara sabia
A mulher não dava bola
7
De tanto ela botar zero
Será que a professora via
As respostas dos meninos
Quando prova corrigia?
Quem sabe na casa dela
De preguiça só dormia
8
E quando o dia amanhecia
Na pressa de se arrumar
Ia tacando zero em tudo
Para o serviço adiantar
Botava as provas na bolsa
E se punha a caminhar
9
Só podia ser assim
É a única explicação
Por que parece impossível
Zeros nessa proporção
No Brasil ensino é fraco
Mas exagero assim não
10
Vamos tentar entender
Se uma aluna que sabia
Uma menina aplicada
Tanto zero merecia
E vamos saber também
Que a professora fazia
11
A aluna se chamava
Clarisvânia de Alencar
Ela andava 6 quilômetros
3 para ir 3 pra voltar
Pra chegar na escola dela
E só zero ela arranjar
12
Pois mesmo que ela dormisse
Com livro por travesseiro
Fosse aula particular
Durante o ano inteiro
Parecia ter feito nada
Pois zerava o teste inteiro
13
A mãe dela era Dinalva
E não sabia o que fazer
Já que sempre corrigia
Tava certo seu dever!
Tinha até coisas a mais
Dava raiva só de ver
14
Nas provas de Geografia
Matéria que ela amava
As capitais dos países
Até da China acertava
Em Gramática então
Ela nunca se apertava
15
Ao ditongo decrescente
Ela dava explicação
-Vogal forte é primeiro...
Como: mãe e coração
Tá ouvindo mãe querida
Como eu sei minha lição?
16
Dona Dinalva ouvia tudo
As lágrimas segurava
Clarisvânia inteligente
E tanto zero levava
Não tá certo meu Senhor!
A mulher se revoltava
17
Um dia ela diz a filha:
Nós temos uma saída
Diga a essa professora:
Eu quero ser argüida
Estude um pouco mais hoje
Pra ficar bem prevenida
18
Se pegue com Geografia
E decore as capitais
Das nações que tem no mundo
Não fique uma só pra trás
Quero ver se ela te enrola
Quero ver se ela é capaz
19
Clarisvânia diz: tá certo
Vou gostar do desafio
Eu tiro tudo isso a limpo
Por que muito desconfio
Que do jeito que eu estudo
Eu mereceria uns mil
20
No outro dia Clarisvânia
Chega cedo na escola
Tudo na ponta da língua
Que ela já nem via a hora
De enfrentar a professora
E fazer o bota fora
21
E logo veio a professora
Com teste pra cima dela
Clarisvania devolveu
E foi dizendo para ela
Eu não quero prova escrita
“O negócio era na goela”
22
E categoricamente
Pediu pra ser argüida
A professora respondeu
Não está sendo atrevida?
Meu horário aqui é pouco
Acabo logo em seguida
23
Não vou ficar me empatando
Com aluna especial
Que rejeita prova escrita
E só quer a prova oral
Aqui não é faculdade
Ainda é Fundamental
24
Clarisvânia logo diz
Professora vou dizer
Não é o que lhe parece
Não tô querendo aparecer
Só lhe fiz essa proposta
Pra poder esclarecer
25
Por que estou levando zero
Você pode me dizer?
Por que isso acontece
Se tá certo meu dever
Se respondo direitinho
Mãe revisa pode crer!
26
Pois se aqui ficam calados
E não querem nem saber
Comigo é diferente
Já que eu quero aprender
Se eu não tiver estudo
O que é que eu vou ser?
27
Ela peitou a professora
E a mulher se intimidou
Pois disse logo pra ela
Vamos lá pro corredor
A gente resolve tudo
Clarisvânia: por favor,
28
Lá fora a professora
Fala despreocupada
-Tudo bem essa menina
Toda classe tá passada
Aluno repetir ano
Já é coisa ultrapassada...
29
Clarisvânia diz ô gente!
Passar sem saber de nada?
E lá no vestibular
A turma tá preparada
Pra concorrer com os outros
De uma escola avançada?
30
E os zeros que estou levando
A senhora faz o quê?
Minha mãe corrige tudo
Acompanha meu dever
A professora lhe responde:
Deixe lá que eu vou rever.
31
Chega em casa Clarisvânia
Pra sua mãe tudo esclarece
Quando a pobre dela escuta
Dinalva quase enlouquece
Filha! Pelo amor de Deus
O que foi que tu disseste
32
Então virou brincadeira
Eu não aceito isso não
No tempo que eu estudava
Tinha até Admissão
Se aluno não estudava
Ele não passava não
33
Tudo bem que hoje em dia
Passe burro analfabeto
Mas a tua professora
Não está agindo certo
Ela não corrige nada
Isso não está correto
34
Mas veremos mais pra frente
O que ela vai aprontar
Qual é mesmo da bruaca
E que nota que vai dar
Uma coisa ela já sabe
Tu tens mãe pra te cuidar
35
Clarisvânia continuou
A estudante exigente
Chegava cedo à escola
A mesma aluna de sempre
Preocupada com futuro
Nos estudos consciente
36
Fim de mês ela faz testes
Esperou por resultado
A nota dela veio 100
Negócio táva mudado
Mas as notas dos meninos
O zero táva encarnado
37
Isso lhe preocupou
Em casa pra mãe relata:
Por uma parte estou bem
Eu tirei nota bem alta
Mas por outra estou triste
A coisa é muito chata
38
O resto dos coleguinhas
Só tiraram nota baixa
Diga lá minha mãezinha
Quê que a senhora acha
Tá certo um negócio desse
Vão passar tudo na faixa
39
Por isso não tão ligando
Nem olham pra resultado
Vão passar de qualquer jeito
Ninguém tá aperreado
Mas comigo é diferente
Isso tá esculhambado
40
Com raiva a mãe dela diz
Eu vou no grupo escolar
Levo toda tuas provas
Para diretora olhar
Se ela não revisar tudo
Ah!O bicho vai pegar
41
Vamos até pra São Paulo
Se for para tu estudar
Na capital Bandeirante
Tem colégio particular
Vai ter muitas opções
Tu vás puder te formar
42
Há de existir um lugar
Que ajuda quem quer estudar
Tua cabeça é boa filha
Por isso vou me esforçar
Largo roça boi e vaca
Na mão de Deus vai ficar
43
Dinalva respira fundo
Depois de desabafar
Começa a pensar melhor
Começa a se concentrar
Não pode ser desse jeito
Ela tem que se acalmar
44
E no outro dia cedinho
Frente ao grupo escolar
Esperando a porta abrir
Pobre mãe estava lá
No que chega a diretora
Ela vai lhe acompanhar
45
Dinalva muito nervosa
Fala tudo sem parar
Aquelas provas na mão
Já pesando pra danar
A diretora pergunta
Vai voltar a estudar?
46
Vou não, é de Clarisvânia
E começa a relatar
Diretora eu desconfio
Que lhe vão é sabotar
Minha filha sabe muito
Você pode acreditar
47
Ela sabe geografia
Matemática e ciência
Diretora por favor
Já estou sem paciência
Eu vejo os deveres dela
De tudo tenho ciência
48
A diretora diz pra ela:
Que tudo irá corrigir
Que ela beba uma água
Que o negócio vai fluir
Que não fale no momento
Para não lhe distrair
49
Não demora a diretora
Grita: olhe meu Deus aqui!
Essa menina em matemática
Mais, vezes, subtrair
Tudo certo ela é demais
Ninguém pode discutir.
50
Que essa professora fez?
Mandem ela vir aqui
Se ela é despreparada
Ela tem que se assumir
Em minhas mãos tenho provas
Tá demais tudo isso aqui
51
Logo entra a professora
E começa a chorar
Disse: por necessidade
Inventei de ensinar
Me dê as contas diretora
Já não passo agüentar
52
A vergonha é muito grande
Como pude acreditar
Que eu tinha vocação
De ir pra classe ensinar
Corrigir tanto dever
É difícil pra danar
53
Perdoe-me dona Dinalva
Diretora vou-me embora
Nunca mais eu me atrevo
De ensinar assim na tora
Não nasci para isso não
E de escola eu tô fora
54
A diretora lhe despede
Dando um longo sermão
Não se meta a ensinar
Procure outra profissão
Vá em paz minha senhora
Que eu já sei minha missão
55
Vou tomar conta da turma
E os alunos passarão
O trabalho vai ser duro
Mas não tem problema não
Contarei com Clarisvânia
Pra fazer a correção
56
Dinalva também ajuda
As mães incentivará
A olhar mais pelos filhos
Não deixar a Deus dará
Vá em paz professorinha
Tudo se resolverá
Fim da primeira parte.
Esta história continua, aguarde um próximo folheto.
obs.Clarisvânia é uma obra de ficção qualquer semelhança com fatos ou pesrsonagens terá sido mera coincidência
1
Só Deus para ajudar
Nessa grande confusão
Pois uma aluna inteligente
Que estudava lição
Só tirava nota baixa
Veja que perturbação
2
Maldade ou ignorância
Num sertão desse Brasil
Onde certa professora
Quase quase destruiu
O futuro de uma aluna
Uma vida estudantil
3
Mas mentira sempre perde
A verdade sempre ganha
E no final dessa história
Que parece tão estranha
Veremos que triunfará
A aluna Clarisvânia
4
O oficio de ensinador
Não é para qualquer um
Não é por necessidade
Tome currículo pá-pum!
Ensinar é uma missão
A lição número um
5
Quem se mete a professor
Quando não tem vocação
O que faz é trapalhada
Bota o pé pela mão
Comete muita injustiça
Como nesta ocasião
6
Que uma professora ingrata
Sem miolo na cachola
Dava muita nota ruim
Para todos na escola
Até se o cara sabia
A mulher não dava bola
7
De tanto ela botar zero
Será que a professora via
As respostas dos meninos
Quando prova corrigia?
Quem sabe na casa dela
De preguiça só dormia
8
E quando o dia amanhecia
Na pressa de se arrumar
Ia tacando zero em tudo
Para o serviço adiantar
Botava as provas na bolsa
E se punha a caminhar
9
Só podia ser assim
É a única explicação
Por que parece impossível
Zeros nessa proporção
No Brasil ensino é fraco
Mas exagero assim não
10
Vamos tentar entender
Se uma aluna que sabia
Uma menina aplicada
Tanto zero merecia
E vamos saber também
Que a professora fazia
11
A aluna se chamava
Clarisvânia de Alencar
Ela andava 6 quilômetros
3 para ir 3 pra voltar
Pra chegar na escola dela
E só zero ela arranjar
12
Pois mesmo que ela dormisse
Com livro por travesseiro
Fosse aula particular
Durante o ano inteiro
Parecia ter feito nada
Pois zerava o teste inteiro
13
A mãe dela era Dinalva
E não sabia o que fazer
Já que sempre corrigia
Tava certo seu dever!
Tinha até coisas a mais
Dava raiva só de ver
14
Nas provas de Geografia
Matéria que ela amava
As capitais dos países
Até da China acertava
Em Gramática então
Ela nunca se apertava
15
Ao ditongo decrescente
Ela dava explicação
-Vogal forte é primeiro...
Como: mãe e coração
Tá ouvindo mãe querida
Como eu sei minha lição?
16
Dona Dinalva ouvia tudo
As lágrimas segurava
Clarisvânia inteligente
E tanto zero levava
Não tá certo meu Senhor!
A mulher se revoltava
17
Um dia ela diz a filha:
Nós temos uma saída
Diga a essa professora:
Eu quero ser argüida
Estude um pouco mais hoje
Pra ficar bem prevenida
18
Se pegue com Geografia
E decore as capitais
Das nações que tem no mundo
Não fique uma só pra trás
Quero ver se ela te enrola
Quero ver se ela é capaz
19
Clarisvânia diz: tá certo
Vou gostar do desafio
Eu tiro tudo isso a limpo
Por que muito desconfio
Que do jeito que eu estudo
Eu mereceria uns mil
20
No outro dia Clarisvânia
Chega cedo na escola
Tudo na ponta da língua
Que ela já nem via a hora
De enfrentar a professora
E fazer o bota fora
21
E logo veio a professora
Com teste pra cima dela
Clarisvania devolveu
E foi dizendo para ela
Eu não quero prova escrita
“O negócio era na goela”
22
E categoricamente
Pediu pra ser argüida
A professora respondeu
Não está sendo atrevida?
Meu horário aqui é pouco
Acabo logo em seguida
23
Não vou ficar me empatando
Com aluna especial
Que rejeita prova escrita
E só quer a prova oral
Aqui não é faculdade
Ainda é Fundamental
24
Clarisvânia logo diz
Professora vou dizer
Não é o que lhe parece
Não tô querendo aparecer
Só lhe fiz essa proposta
Pra poder esclarecer
25
Por que estou levando zero
Você pode me dizer?
Por que isso acontece
Se tá certo meu dever
Se respondo direitinho
Mãe revisa pode crer!
26
Pois se aqui ficam calados
E não querem nem saber
Comigo é diferente
Já que eu quero aprender
Se eu não tiver estudo
O que é que eu vou ser?
27
Ela peitou a professora
E a mulher se intimidou
Pois disse logo pra ela
Vamos lá pro corredor
A gente resolve tudo
Clarisvânia: por favor,
28
Lá fora a professora
Fala despreocupada
-Tudo bem essa menina
Toda classe tá passada
Aluno repetir ano
Já é coisa ultrapassada...
29
Clarisvânia diz ô gente!
Passar sem saber de nada?
E lá no vestibular
A turma tá preparada
Pra concorrer com os outros
De uma escola avançada?
30
E os zeros que estou levando
A senhora faz o quê?
Minha mãe corrige tudo
Acompanha meu dever
A professora lhe responde:
Deixe lá que eu vou rever.
31
Chega em casa Clarisvânia
Pra sua mãe tudo esclarece
Quando a pobre dela escuta
Dinalva quase enlouquece
Filha! Pelo amor de Deus
O que foi que tu disseste
32
Então virou brincadeira
Eu não aceito isso não
No tempo que eu estudava
Tinha até Admissão
Se aluno não estudava
Ele não passava não
33
Tudo bem que hoje em dia
Passe burro analfabeto
Mas a tua professora
Não está agindo certo
Ela não corrige nada
Isso não está correto
34
Mas veremos mais pra frente
O que ela vai aprontar
Qual é mesmo da bruaca
E que nota que vai dar
Uma coisa ela já sabe
Tu tens mãe pra te cuidar
35
Clarisvânia continuou
A estudante exigente
Chegava cedo à escola
A mesma aluna de sempre
Preocupada com futuro
Nos estudos consciente
36
Fim de mês ela faz testes
Esperou por resultado
A nota dela veio 100
Negócio táva mudado
Mas as notas dos meninos
O zero táva encarnado
37
Isso lhe preocupou
Em casa pra mãe relata:
Por uma parte estou bem
Eu tirei nota bem alta
Mas por outra estou triste
A coisa é muito chata
38
O resto dos coleguinhas
Só tiraram nota baixa
Diga lá minha mãezinha
Quê que a senhora acha
Tá certo um negócio desse
Vão passar tudo na faixa
39
Por isso não tão ligando
Nem olham pra resultado
Vão passar de qualquer jeito
Ninguém tá aperreado
Mas comigo é diferente
Isso tá esculhambado
40
Com raiva a mãe dela diz
Eu vou no grupo escolar
Levo toda tuas provas
Para diretora olhar
Se ela não revisar tudo
Ah!O bicho vai pegar
41
Vamos até pra São Paulo
Se for para tu estudar
Na capital Bandeirante
Tem colégio particular
Vai ter muitas opções
Tu vás puder te formar
42
Há de existir um lugar
Que ajuda quem quer estudar
Tua cabeça é boa filha
Por isso vou me esforçar
Largo roça boi e vaca
Na mão de Deus vai ficar
43
Dinalva respira fundo
Depois de desabafar
Começa a pensar melhor
Começa a se concentrar
Não pode ser desse jeito
Ela tem que se acalmar
44
E no outro dia cedinho
Frente ao grupo escolar
Esperando a porta abrir
Pobre mãe estava lá
No que chega a diretora
Ela vai lhe acompanhar
45
Dinalva muito nervosa
Fala tudo sem parar
Aquelas provas na mão
Já pesando pra danar
A diretora pergunta
Vai voltar a estudar?
46
Vou não, é de Clarisvânia
E começa a relatar
Diretora eu desconfio
Que lhe vão é sabotar
Minha filha sabe muito
Você pode acreditar
47
Ela sabe geografia
Matemática e ciência
Diretora por favor
Já estou sem paciência
Eu vejo os deveres dela
De tudo tenho ciência
48
A diretora diz pra ela:
Que tudo irá corrigir
Que ela beba uma água
Que o negócio vai fluir
Que não fale no momento
Para não lhe distrair
49
Não demora a diretora
Grita: olhe meu Deus aqui!
Essa menina em matemática
Mais, vezes, subtrair
Tudo certo ela é demais
Ninguém pode discutir.
50
Que essa professora fez?
Mandem ela vir aqui
Se ela é despreparada
Ela tem que se assumir
Em minhas mãos tenho provas
Tá demais tudo isso aqui
51
Logo entra a professora
E começa a chorar
Disse: por necessidade
Inventei de ensinar
Me dê as contas diretora
Já não passo agüentar
52
A vergonha é muito grande
Como pude acreditar
Que eu tinha vocação
De ir pra classe ensinar
Corrigir tanto dever
É difícil pra danar
53
Perdoe-me dona Dinalva
Diretora vou-me embora
Nunca mais eu me atrevo
De ensinar assim na tora
Não nasci para isso não
E de escola eu tô fora
54
A diretora lhe despede
Dando um longo sermão
Não se meta a ensinar
Procure outra profissão
Vá em paz minha senhora
Que eu já sei minha missão
55
Vou tomar conta da turma
E os alunos passarão
O trabalho vai ser duro
Mas não tem problema não
Contarei com Clarisvânia
Pra fazer a correção
56
Dinalva também ajuda
As mães incentivará
A olhar mais pelos filhos
Não deixar a Deus dará
Vá em paz professorinha
Tudo se resolverá
Fim da primeira parte.
Esta história continua, aguarde um próximo folheto.
obs.Clarisvânia é uma obra de ficção qualquer semelhança com fatos ou pesrsonagens terá sido mera coincidência
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Cordel de Michael Jackson e o que disseram os tablóides
Michael Jackson
e os fuxicos dos tablóides
I
Com licença meus senhores
Só um pouco de atenção
Os versos que aqui seguem
Pode ser a salvação
Cuidado com o que pedem
Cuidado com ambição
II
Muitos dizem ai meu Deus !
Como essa vida é ruim
Quando eu vou enriquecer
Vou virar um Aladim
Pra ter o gênio da lâmpada
Obedecendo a mim
III
Quando vou ser Michael Jackson
Sair por ai reboando
Com o bolso cheio de dinheiro
As mulheres me amando
Subir no palco da vida
Ver o povo me aclamando
IV
Será que o povo sabe
Na fria que tá entrado
Ficando assim como besta
Por riqueza se babando
Cuidado gente cuidado
Em ficar ambicionando
V
A vida de Michael Jackson
Não era aquele colosso
Quando o cabôco morreu
O bichim só tava o osso
O rosto se despencou
Só ficou mesmo o esboço
VI
Mudança que fez na cara
Para empinar seu nariz
Mudança na cor da cútis
Que ficou quer ver o Kiss
Tudo tudo despencou
Cadê aquele petiz
VII
Que encantava a moçada
Dando o passinho pra trás
Quem não lembra de: A B C
O menino era demais
Que foi aquilo meu Deus
Cadê Maicon? Nunca mais
VIII
Quando os médicos abriram
Para periciar ele
Encontraram foi cachete
Dentro do abdômen dele
Os peritos se assustaram
Todo mundo era fã dele
IX
A crua realidade
Por detrás da fantasia
No que termina o exame
Teve choro em demasia
Os médicos se retiraram
E ninguém nada dizia
X
Ali desmistificado
O rei do pop jazia
Tava nu e sem glamour
Numa pedra muito fria
Demorou pra acreditar
É que a ficha não caía
XI
Logo veio tanto fuxico
Que pareceram sem fim
Falaram da infância dele
Que seu pai era ruim
Que Maicom vivia preso
Numa torre de marfim
XII
Do pai também disseram
Que só na grana pensava
Que pra Maicon cantar bem
Quase lhe hipnotizava
E que se as rimas errasse
O cinto dele avuava
XIII
Que Maicon perdia aula
Pra puder ir ensaiar
Que às vezes meia noite
O som tava a repassar
Eita que véio exigente
Tão difícil de aturar
XIV
Se Maicom dizia: não canto
Pois quero estudar um pouco
Ser um menino normal
O véio ficava louco
Maicon you gonna shake now!
Ou tu vai levar um soco.
XV
E que foi por causa disso
Que Maicon falava fino
Mesmo quando virou homem
A voz era de menino
O trauma dele foi tato
Que quase virava albino
XVI
Falaram dos seus irmãos
Que todos cantavam mal
E que só viviam de olho
Na fama e no vil metal
Que Maicon logo caiu fora
Mas já tava feito o mal
XVII
Das coisas que fofocaram
Todas foram de matar
Mas a de ficar dançando
Sem ter tempo de estudar
Isso sim foi muito errado
Isso sim foi de lascar
XVIII
Maicon podia se formar
Aprender Filosofia
Quem sabe se desse jeito
Muito melhor não seria
Seguia cantando bem
Mas o mundo entenderia
XIX
O estudo salva o homem
E faz ele compreender
Que dinheiro não é tudo
O que vale é Saber
Pois é quem liberta a gente
E nos faz sobreviver
XX
Se o cabra cresce burro
Se nunca liga pra escola
O que ele achar bonito
Qualquer coisa ele dá bola
Não descobre a si mesmo
Fica só fazendo cola!
XXI
E depois de Maicom rico
Dava sim para estudar
Mas com os bilhões no banco
Ele ia lá se importar
Fama lhe contagiou
Até foi se clarear!
XXII
Mexeu tanto no seu corpo
Que não queria mais se olhar
Passava longe de espelho
Pra não se contrariar
Mas que armada foi aquela
Que seu Maicon foi aprontar
XXIII
Por fim a TV mostrou
Somente o caixão lacrado
Quem sabe se no final
Ele não foi reciclado
Não se viu falar mais nele
Assunto tá encerrado
XXIV
A terra não come Plástico
Só produto natural
Do jeito que ele ficou
Um tanto discomunal
Vai ver virou boneco
Em tamanho natural
Fim
e os fuxicos dos tablóides
I
Com licença meus senhores
Só um pouco de atenção
Os versos que aqui seguem
Pode ser a salvação
Cuidado com o que pedem
Cuidado com ambição
II
Muitos dizem ai meu Deus !
Como essa vida é ruim
Quando eu vou enriquecer
Vou virar um Aladim
Pra ter o gênio da lâmpada
Obedecendo a mim
III
Quando vou ser Michael Jackson
Sair por ai reboando
Com o bolso cheio de dinheiro
As mulheres me amando
Subir no palco da vida
Ver o povo me aclamando
IV
Será que o povo sabe
Na fria que tá entrado
Ficando assim como besta
Por riqueza se babando
Cuidado gente cuidado
Em ficar ambicionando
V
A vida de Michael Jackson
Não era aquele colosso
Quando o cabôco morreu
O bichim só tava o osso
O rosto se despencou
Só ficou mesmo o esboço
VI
Mudança que fez na cara
Para empinar seu nariz
Mudança na cor da cútis
Que ficou quer ver o Kiss
Tudo tudo despencou
Cadê aquele petiz
VII
Que encantava a moçada
Dando o passinho pra trás
Quem não lembra de: A B C
O menino era demais
Que foi aquilo meu Deus
Cadê Maicon? Nunca mais
VIII
Quando os médicos abriram
Para periciar ele
Encontraram foi cachete
Dentro do abdômen dele
Os peritos se assustaram
Todo mundo era fã dele
IX
A crua realidade
Por detrás da fantasia
No que termina o exame
Teve choro em demasia
Os médicos se retiraram
E ninguém nada dizia
X
Ali desmistificado
O rei do pop jazia
Tava nu e sem glamour
Numa pedra muito fria
Demorou pra acreditar
É que a ficha não caía
XI
Logo veio tanto fuxico
Que pareceram sem fim
Falaram da infância dele
Que seu pai era ruim
Que Maicom vivia preso
Numa torre de marfim
XII
Do pai também disseram
Que só na grana pensava
Que pra Maicon cantar bem
Quase lhe hipnotizava
E que se as rimas errasse
O cinto dele avuava
XIII
Que Maicon perdia aula
Pra puder ir ensaiar
Que às vezes meia noite
O som tava a repassar
Eita que véio exigente
Tão difícil de aturar
XIV
Se Maicom dizia: não canto
Pois quero estudar um pouco
Ser um menino normal
O véio ficava louco
Maicon you gonna shake now!
Ou tu vai levar um soco.
XV
E que foi por causa disso
Que Maicon falava fino
Mesmo quando virou homem
A voz era de menino
O trauma dele foi tato
Que quase virava albino
XVI
Falaram dos seus irmãos
Que todos cantavam mal
E que só viviam de olho
Na fama e no vil metal
Que Maicon logo caiu fora
Mas já tava feito o mal
XVII
Das coisas que fofocaram
Todas foram de matar
Mas a de ficar dançando
Sem ter tempo de estudar
Isso sim foi muito errado
Isso sim foi de lascar
XVIII
Maicon podia se formar
Aprender Filosofia
Quem sabe se desse jeito
Muito melhor não seria
Seguia cantando bem
Mas o mundo entenderia
XIX
O estudo salva o homem
E faz ele compreender
Que dinheiro não é tudo
O que vale é Saber
Pois é quem liberta a gente
E nos faz sobreviver
XX
Se o cabra cresce burro
Se nunca liga pra escola
O que ele achar bonito
Qualquer coisa ele dá bola
Não descobre a si mesmo
Fica só fazendo cola!
XXI
E depois de Maicom rico
Dava sim para estudar
Mas com os bilhões no banco
Ele ia lá se importar
Fama lhe contagiou
Até foi se clarear!
XXII
Mexeu tanto no seu corpo
Que não queria mais se olhar
Passava longe de espelho
Pra não se contrariar
Mas que armada foi aquela
Que seu Maicon foi aprontar
XXIII
Por fim a TV mostrou
Somente o caixão lacrado
Quem sabe se no final
Ele não foi reciclado
Não se viu falar mais nele
Assunto tá encerrado
XXIV
A terra não come Plástico
Só produto natural
Do jeito que ele ficou
Um tanto discomunal
Vai ver virou boneco
Em tamanho natural
Fim
domingo, 16 de agosto de 2009
Dia do lançamento do Cordelizando fotos- SHEYLA ARAÚJO
domingo, 9 de agosto de 2009
domingo, 26 de julho de 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
A TRISTE HISTÓRIA DE UMA VITIMA DA PALMATÓRIA
A TRISTE HISTÓRIA DE UMA VITIMA DA PALMATÓRIA
Autor: Luis Emanuel Cavalcanti
Aqui começo a contar
Uma pequena historinha
Que me contou uma senhora
Chamada dona Lurdinha
E apesar de ser vovó
Ainda cuida da cozinha
Um dia lhe perguntei
Porque ela não estudou
O que a mulher respondeu
Foi terrível e me assustou
Apanhou da professora
Pra escola não voltou
Disse-me que nunca foi
Uma menina levada
Mas às vezes se entretia
E na escola atrasada
A professora batia
E lhe deixava ajoelhada
Era o tempo do governo
Do Dr. Getúlio Vargas
A época da ditadura
De palmatórias amargas
Não tinha uma só criança
Que escapasse dessas larvas
Até sangue dos alunos
Nessa era se tirava
Todo mundo consentia
Quase ninguém se importava
Nos idos anos 40
A lei do cão governava
A velhinha foi falando
Com saudades dos caminhos
Quando para escola ia
Com o seu bom amiguinho
Pedrinho, este o nome dele
Que era também seu vizinho
Quando chegava atrasada
Na sala podia entrar
Mas aquilo era somente
Para o sermão escutar
Às vezes a professora
Botava era pra quebrar
Um dia a ditadora
Na aula de geografia
Perguntou para a Lurdinha
Pra ver se ela sabia
O nome dos continentes
Lurdinha nada dizia
Se arretou a professora
Botou Lurdinha ajoelhada
Torturou a pobrezinha
Parecia endiabrada
Depois virou-se pra turma
Pedindo a tabuada
Martirizada a menina
Rezava à virgem Maria
Pedia pra que ajudasse
Pois o seu joelho doía
E estava envergonhada
Porque toda classe via
Era cinco vezes quatro
A classe se apavorava
Mas Deus logo os acudia
E todo mundo acertava
Porque Lurdinha ajoelhada
A eles exemplo dava
Por fim o som da cigarra
E logo a classe sumiu
A mestra disse levanta
Lourdinha no chão caiu
E a professora malvada
Nem sequer lhe acudiu
E só lhe disse uma coisa
A lição de casa traga
Com o nome dos continentes
Não me dê resposta vaga
Não precisava nem dizer
Que a palmatória era praga
Assim por aquele dia
Do inferno ela se salvava
Foi andando cabisbaixa
E Pedrinho lhe aguardava
Lhe deu logo os parabéns
Porque ela não se entregava
E foram pelo caminho
Ele apoiando a Lurdinha
Levou ela até em casa
Ela ficou alegrinha
Pedrinho nunca deixava
Ela se sentir sozinha
Quando foi entrando em casa
A mãe foi logo dizendo
Eu já conheço essa cara
O que que andas fazendo?
Corre logo pra cozinha
Que o feijão está cozendo
Vá buscar água pra casa
Quando aprontar o almoço
Vamos ver se não esquecesses
De voltar logo do poço
E fazer bem a lição
Para ficar um colosso
Quando foi anoitecendo
Ela da lição lembrou
Procurou nos livros velhos
Mas em nenhum encontrou
Os continentes, com medo
Acho até que ela chorou
Quem iria lhe ajudar
Ninguém ali estudava
O sujeito nem sabia
Onde a Paraíba estava
Imagina o que aquela
Estudante procurava
O anoitecer do sertão
Escurece dando medo
Todo povo sertanejo
Vai pra cama muito cedo
Não da pro cabra estudar
Pois não enxerga o enredo
E quem sabe o que Lurdinha
Em sua cama pensava
Talvez ela até achou
Que a mestra perdoava
E pensando assim dormiu
Porque logo o sol raiava
Sete horas da manhã
Pedrinho lhe esperava
Lurdinha olhava pra ele
E a cabeça baixava
Era uma menina santa
Acho que os anjos amparava
Eles chegaram à aula
Pontualmente na hora
A professora aguardava
Ela dormia na escola
Eles olhavam pra ela
E já queriam ir embora
Ela tinha roupa escura
O cabelo preso inteiro
Era bem alta e gorda
Tinha uma voz de braseiro
Como alguém que foi criada
No mato com cangaceiro
Logo todos se sentaram
E fizeram uma oração
Ela virou pra Lurdinha
Vamos fazer argüição
Lurdinha nada sabia
Não estudou a lição
E já foi se preparando
A mão já vinha estirada
A professora contava
Os bolos desesperada
E os meninos observavam
Lurdinha sem falar nada
O agressor sempre deseja
Ver o agredido apelar
Mas a franzina menina
Não pedia pr parar
A bruaca com mais raiva
Terminava indo chorar
E acertou a menina
Na sua frágil cabecinha
Lurdinha soltou-se dela
E foi pra casa sozinha
Olhem bem que essa menina
Nem dez anos ela tinha
Daquele momento em diante
Encolheu-se numa cama
E foi numa sexta-feira
Por todo fim de semana
A mãe achou que era gripe
Mas Lourdinha não reclama
Só na Segunda bem cedo
Pedrinho deu pela falta
E foi saber da mãe dela
Essa velha quase infarta
Porque a menina estava
Com uma febre bem alta
Lá no seu cantinho só
Com a febre que ela tinha
O que agora lembrava
Uma baleada rolinha
Pedrinho a mãe dela disse
Quase que matam Lurdinha
A mãe pegou a menina
E botou logo no braço
Só assim que reparou
Na cabeça dela um traço
E para o médico a levou
Perguntando o que é que eu faço?
O doutor disse meu Deus
Isso não tem condição
Quem bateu nessa menina
Parece sem coração
Quando é que vai acabar
Com tão grande aberração
A mãe disse seu Doutor
Professor é igual um pai
Se ela não quer mais escola
A hora que quiser sai
Mais uma coisa ela sabe
É pra roça que ela vai
Desse jeito aconteceu
Pra escola não voltou
A mãe lhe botou na roça
Com treze anos casou
Porque desse jeito ela
O ritmo não segurou
É certo que passou tempo
Desde esta atrocidade
Alguns professores tinham
Esse instinto de maldade
Comprometendo o futuro
Trazendo infelicidade
Porque ela ainda sente
A cabeça lhe doer
E quando força sua mente
Para uma frase ler
Parece que de repente
Vê o mundo escurecer
Eu acabei de contar
A lamentável história
Que não só ficou marcada
Lá num canto da memória
Lurdinha não teve chance
Por causa da palmatória
Autor: Luis Emanuel Cavalcanti
Aqui começo a contar
Uma pequena historinha
Que me contou uma senhora
Chamada dona Lurdinha
E apesar de ser vovó
Ainda cuida da cozinha
Um dia lhe perguntei
Porque ela não estudou
O que a mulher respondeu
Foi terrível e me assustou
Apanhou da professora
Pra escola não voltou
Disse-me que nunca foi
Uma menina levada
Mas às vezes se entretia
E na escola atrasada
A professora batia
E lhe deixava ajoelhada
Era o tempo do governo
Do Dr. Getúlio Vargas
A época da ditadura
De palmatórias amargas
Não tinha uma só criança
Que escapasse dessas larvas
Até sangue dos alunos
Nessa era se tirava
Todo mundo consentia
Quase ninguém se importava
Nos idos anos 40
A lei do cão governava
A velhinha foi falando
Com saudades dos caminhos
Quando para escola ia
Com o seu bom amiguinho
Pedrinho, este o nome dele
Que era também seu vizinho
Quando chegava atrasada
Na sala podia entrar
Mas aquilo era somente
Para o sermão escutar
Às vezes a professora
Botava era pra quebrar
Um dia a ditadora
Na aula de geografia
Perguntou para a Lurdinha
Pra ver se ela sabia
O nome dos continentes
Lurdinha nada dizia
Se arretou a professora
Botou Lurdinha ajoelhada
Torturou a pobrezinha
Parecia endiabrada
Depois virou-se pra turma
Pedindo a tabuada
Martirizada a menina
Rezava à virgem Maria
Pedia pra que ajudasse
Pois o seu joelho doía
E estava envergonhada
Porque toda classe via
Era cinco vezes quatro
A classe se apavorava
Mas Deus logo os acudia
E todo mundo acertava
Porque Lurdinha ajoelhada
A eles exemplo dava
Por fim o som da cigarra
E logo a classe sumiu
A mestra disse levanta
Lourdinha no chão caiu
E a professora malvada
Nem sequer lhe acudiu
E só lhe disse uma coisa
A lição de casa traga
Com o nome dos continentes
Não me dê resposta vaga
Não precisava nem dizer
Que a palmatória era praga
Assim por aquele dia
Do inferno ela se salvava
Foi andando cabisbaixa
E Pedrinho lhe aguardava
Lhe deu logo os parabéns
Porque ela não se entregava
E foram pelo caminho
Ele apoiando a Lurdinha
Levou ela até em casa
Ela ficou alegrinha
Pedrinho nunca deixava
Ela se sentir sozinha
Quando foi entrando em casa
A mãe foi logo dizendo
Eu já conheço essa cara
O que que andas fazendo?
Corre logo pra cozinha
Que o feijão está cozendo
Vá buscar água pra casa
Quando aprontar o almoço
Vamos ver se não esquecesses
De voltar logo do poço
E fazer bem a lição
Para ficar um colosso
Quando foi anoitecendo
Ela da lição lembrou
Procurou nos livros velhos
Mas em nenhum encontrou
Os continentes, com medo
Acho até que ela chorou
Quem iria lhe ajudar
Ninguém ali estudava
O sujeito nem sabia
Onde a Paraíba estava
Imagina o que aquela
Estudante procurava
O anoitecer do sertão
Escurece dando medo
Todo povo sertanejo
Vai pra cama muito cedo
Não da pro cabra estudar
Pois não enxerga o enredo
E quem sabe o que Lurdinha
Em sua cama pensava
Talvez ela até achou
Que a mestra perdoava
E pensando assim dormiu
Porque logo o sol raiava
Sete horas da manhã
Pedrinho lhe esperava
Lurdinha olhava pra ele
E a cabeça baixava
Era uma menina santa
Acho que os anjos amparava
Eles chegaram à aula
Pontualmente na hora
A professora aguardava
Ela dormia na escola
Eles olhavam pra ela
E já queriam ir embora
Ela tinha roupa escura
O cabelo preso inteiro
Era bem alta e gorda
Tinha uma voz de braseiro
Como alguém que foi criada
No mato com cangaceiro
Logo todos se sentaram
E fizeram uma oração
Ela virou pra Lurdinha
Vamos fazer argüição
Lurdinha nada sabia
Não estudou a lição
E já foi se preparando
A mão já vinha estirada
A professora contava
Os bolos desesperada
E os meninos observavam
Lurdinha sem falar nada
O agressor sempre deseja
Ver o agredido apelar
Mas a franzina menina
Não pedia pr parar
A bruaca com mais raiva
Terminava indo chorar
E acertou a menina
Na sua frágil cabecinha
Lurdinha soltou-se dela
E foi pra casa sozinha
Olhem bem que essa menina
Nem dez anos ela tinha
Daquele momento em diante
Encolheu-se numa cama
E foi numa sexta-feira
Por todo fim de semana
A mãe achou que era gripe
Mas Lourdinha não reclama
Só na Segunda bem cedo
Pedrinho deu pela falta
E foi saber da mãe dela
Essa velha quase infarta
Porque a menina estava
Com uma febre bem alta
Lá no seu cantinho só
Com a febre que ela tinha
O que agora lembrava
Uma baleada rolinha
Pedrinho a mãe dela disse
Quase que matam Lurdinha
A mãe pegou a menina
E botou logo no braço
Só assim que reparou
Na cabeça dela um traço
E para o médico a levou
Perguntando o que é que eu faço?
O doutor disse meu Deus
Isso não tem condição
Quem bateu nessa menina
Parece sem coração
Quando é que vai acabar
Com tão grande aberração
A mãe disse seu Doutor
Professor é igual um pai
Se ela não quer mais escola
A hora que quiser sai
Mais uma coisa ela sabe
É pra roça que ela vai
Desse jeito aconteceu
Pra escola não voltou
A mãe lhe botou na roça
Com treze anos casou
Porque desse jeito ela
O ritmo não segurou
É certo que passou tempo
Desde esta atrocidade
Alguns professores tinham
Esse instinto de maldade
Comprometendo o futuro
Trazendo infelicidade
Porque ela ainda sente
A cabeça lhe doer
E quando força sua mente
Para uma frase ler
Parece que de repente
Vê o mundo escurecer
Eu acabei de contar
A lamentável história
Que não só ficou marcada
Lá num canto da memória
Lurdinha não teve chance
Por causa da palmatória
quarta-feira, 17 de junho de 2009
CLODOVIL chegada no ceu de
"Clodovil ao Céu" ( em versos de cordel ), revisado. Autor: Luís Emanuel Cavalcanti
1
Agora que o cancioneiro
Vai ter muito pra contar
Pois no tal de Clodovil
Poetas vão se inspirar
Vai ser cada coisa boa
Dá até pra imaginar
2
Ate mermo Patativa
Se ainda tivesse por cá
Preparava um ABC
Pra lhe homenagear
Cuma ele ja norreu
Vamos tentar imitar
3
No meio de tanto deputado
Um de classe foi chegar
Pra lembrar que a verdade
Sempre prevalecerá
Nem que seja a mais dura
O cabra tem que aguentá
4
Muita gente tinha raiva
Terminava indo chorar
Clodovil era assim mesmo
Ninguém podia cutucá
Pois soltava as cachorra
Num podia se enfezar
5
Esse orador de mão cheia
Falava pra sustentar
Não tinha essa de jeitinho
Depois ir se desculpar
Clodovil era na bucha
E botava pra quebrar
6
Um dia lhe perguntaram
Sobre o significado
Do nome de Clodovil
Ele disse é meio cifrado
Pois até nesse meu nome
Fala dos meu predicado
7
É um nome de três sílabas
Primeira: Clô pros chegado
A do meio do verbo dá
Eu Dô sempre de bom grado
E finalmente vem o vil
Pois sô Vil contrariado
8
Doela em quem doela
Costumava ele falar
Mas por que será o home
Foi tão cedo nos deixar
A câmara ficou chata
A rotina vai voltar
9
Vai ficar sem colorido
Preto e branco pra danar
Os mesmo home sisudo
Com paletó tudo iguá
Sem tirada inteligente
Que só ele sabia dá
10
Deixa pra lá a câmara
Que saiu no prejuízo
Pois o nosso deputado
Já tá é no paraíso
E nós conta tudo agora
Nesse momento preciso
11
São Pedro tava no céu
O molho de chave nas mão
Por cima dele uns anjinho
Desenhando um coração
Do jeito que Maria Braga
Faz na televisão
12
As trombetinhas tocando
Fazendo anunciação
Di rompante o deputado
Arriba numa produção
Todo cheio de purpurina
Brilhando que nem pavão
13
A roupa dele igualzinha
Todo lorde bem marcante
Com aquele jeito altivo
Aparências esfuziante
São Pedro se admirou
Lhe achou foi elegante
14
Começou as homenagem
Houve multa louvação
Pra contar tanta façanha
Do tão nobre cidadão
Lá no céu si faz assim
Com quem merece atenção
15
Por fim o santo chaveiro
Deu a chave dum gabinete
Dizendo pra Clodovil
Mandei botar muito enfeite
Do jeitinho do de Brasília
Espero que aproveite
16
Pedro diz a dois anjinho
Acompanhe o deputado
Esse corredor do céu
Os caminho é complicado
E pode sê que Clodovil
Debandei pra outro lado
17
Aí foram os três seguindo
Por aquela imensidão
Clodovil mais os Anjinhos
Andaram um pedação
No que viro o gabinete
Clodovil solta um gritão
18
Pois na porta bem armado
Tava dom Sebastião
Clodovil reconheceu
Pois logo beija-lhe as mão
Lhe dizendo oh! Desejado
Como é grande a emoção
19
Mas que má lhe pergunte
O que faz nesse rincão
O meu rei num se perdeu
Dize que faz um tempão
Dom Sebastião só diz
Tô aqui numa missão
20
E Segura Clodovil
Pedindo pra ele sentar
Pois a circunstância ia
Até mesmo emocionar
Clodovil com medo diz
Vosmincê vá divagar
21
O rei diz eu vim lhe falar
Di sua nova encarnação
O sinhô renascerá
Numa vila do sertão
Vai sê um tipo de home
Igualmente um Lampião
22
Com jeito de cabra macho
Defendendo os oprimido
Pois o rico explorador
Nunca terá vez consigo
Clodovil dá é um grito
Dizendo que era castigo
23
Nunca gostei de Caatinga
Eu vou é me espinhar
Dom Sebastião lhe diz
Você vai se acostumar
Vai ter também bruguelo
E mulher pra lhe amar
24
Num vai mas sê com antes
Que viveu só sem mulher
Uma vida assim sozinho
Meu Deus quem quer ?
Se aprume logo meu fio
Se alevante tenha fé
25
Clodovil chorando diz
Já deu pra me arripunar
Meu rei tá é sonhado
Pode o destino mudar
Só fartava agora essa
O sinhô quere me casar
26
Ai não que pesadelo!
Quando eu vou me acordar
Nisso chega Lampião
Dizendo: esse cabra vai já
Tu tás cum muito chamego
Tu é home ou uma preá
27
Bora vomo discançá
Que amenhã tu já desce
Clodovil vira pra ele
Ora vê se me esquece!
Lampião lhe olhou feio
Cabra tu não me conhece
28
Clodovil desesperado
Dom Sebastião vem cá!
Pelo amor de Deus
O senhor vem me salvar
O rei só diz meu querido
Nada mais posso mudar
29
Lampião apaga a luz
Mando tudo si calar
E a história acaba aqui
Num tem mais para contar
Por que com Lampião
Ninguém pode contestar
1
Agora que o cancioneiro
Vai ter muito pra contar
Pois no tal de Clodovil
Poetas vão se inspirar
Vai ser cada coisa boa
Dá até pra imaginar
2
Ate mermo Patativa
Se ainda tivesse por cá
Preparava um ABC
Pra lhe homenagear
Cuma ele ja norreu
Vamos tentar imitar
3
No meio de tanto deputado
Um de classe foi chegar
Pra lembrar que a verdade
Sempre prevalecerá
Nem que seja a mais dura
O cabra tem que aguentá
4
Muita gente tinha raiva
Terminava indo chorar
Clodovil era assim mesmo
Ninguém podia cutucá
Pois soltava as cachorra
Num podia se enfezar
5
Esse orador de mão cheia
Falava pra sustentar
Não tinha essa de jeitinho
Depois ir se desculpar
Clodovil era na bucha
E botava pra quebrar
6
Um dia lhe perguntaram
Sobre o significado
Do nome de Clodovil
Ele disse é meio cifrado
Pois até nesse meu nome
Fala dos meu predicado
7
É um nome de três sílabas
Primeira: Clô pros chegado
A do meio do verbo dá
Eu Dô sempre de bom grado
E finalmente vem o vil
Pois sô Vil contrariado
8
Doela em quem doela
Costumava ele falar
Mas por que será o home
Foi tão cedo nos deixar
A câmara ficou chata
A rotina vai voltar
9
Vai ficar sem colorido
Preto e branco pra danar
Os mesmo home sisudo
Com paletó tudo iguá
Sem tirada inteligente
Que só ele sabia dá
10
Deixa pra lá a câmara
Que saiu no prejuízo
Pois o nosso deputado
Já tá é no paraíso
E nós conta tudo agora
Nesse momento preciso
11
São Pedro tava no céu
O molho de chave nas mão
Por cima dele uns anjinho
Desenhando um coração
Do jeito que Maria Braga
Faz na televisão
12
As trombetinhas tocando
Fazendo anunciação
Di rompante o deputado
Arriba numa produção
Todo cheio de purpurina
Brilhando que nem pavão
13
A roupa dele igualzinha
Todo lorde bem marcante
Com aquele jeito altivo
Aparências esfuziante
São Pedro se admirou
Lhe achou foi elegante
14
Começou as homenagem
Houve multa louvação
Pra contar tanta façanha
Do tão nobre cidadão
Lá no céu si faz assim
Com quem merece atenção
15
Por fim o santo chaveiro
Deu a chave dum gabinete
Dizendo pra Clodovil
Mandei botar muito enfeite
Do jeitinho do de Brasília
Espero que aproveite
16
Pedro diz a dois anjinho
Acompanhe o deputado
Esse corredor do céu
Os caminho é complicado
E pode sê que Clodovil
Debandei pra outro lado
17
Aí foram os três seguindo
Por aquela imensidão
Clodovil mais os Anjinhos
Andaram um pedação
No que viro o gabinete
Clodovil solta um gritão
18
Pois na porta bem armado
Tava dom Sebastião
Clodovil reconheceu
Pois logo beija-lhe as mão
Lhe dizendo oh! Desejado
Como é grande a emoção
19
Mas que má lhe pergunte
O que faz nesse rincão
O meu rei num se perdeu
Dize que faz um tempão
Dom Sebastião só diz
Tô aqui numa missão
20
E Segura Clodovil
Pedindo pra ele sentar
Pois a circunstância ia
Até mesmo emocionar
Clodovil com medo diz
Vosmincê vá divagar
21
O rei diz eu vim lhe falar
Di sua nova encarnação
O sinhô renascerá
Numa vila do sertão
Vai sê um tipo de home
Igualmente um Lampião
22
Com jeito de cabra macho
Defendendo os oprimido
Pois o rico explorador
Nunca terá vez consigo
Clodovil dá é um grito
Dizendo que era castigo
23
Nunca gostei de Caatinga
Eu vou é me espinhar
Dom Sebastião lhe diz
Você vai se acostumar
Vai ter também bruguelo
E mulher pra lhe amar
24
Num vai mas sê com antes
Que viveu só sem mulher
Uma vida assim sozinho
Meu Deus quem quer ?
Se aprume logo meu fio
Se alevante tenha fé
25
Clodovil chorando diz
Já deu pra me arripunar
Meu rei tá é sonhado
Pode o destino mudar
Só fartava agora essa
O sinhô quere me casar
26
Ai não que pesadelo!
Quando eu vou me acordar
Nisso chega Lampião
Dizendo: esse cabra vai já
Tu tás cum muito chamego
Tu é home ou uma preá
27
Bora vomo discançá
Que amenhã tu já desce
Clodovil vira pra ele
Ora vê se me esquece!
Lampião lhe olhou feio
Cabra tu não me conhece
28
Clodovil desesperado
Dom Sebastião vem cá!
Pelo amor de Deus
O senhor vem me salvar
O rei só diz meu querido
Nada mais posso mudar
29
Lampião apaga a luz
Mando tudo si calar
E a história acaba aqui
Num tem mais para contar
Por que com Lampião
Ninguém pode contestar
terça-feira, 9 de junho de 2009
O Cordel Nordestino
O Cordel Nordestino
Resumo de parte da monografia do autor Luís Emanuel Cavalcanti
Escrito por poetas trovadores e gritado pelos mesmos nas feiras ensolaradas do Nordeste do Brasil, é exposto e pendurado aos montes nas barracas. Este é o Cordel, poesia popular, conto, epopéia que do século XIX chega aos nossos dias.
A produção em grande escala do cordel nordestino compreendeu o período de final do séc. XIX aos anos 30 do século passado. Essa foi a época de sua maior difusão, na qual a presença de poetas cantadores nas feiras livres no sertão do Nordeste brasileiro era frequente. Os cantadores de cordel, geralmente homens do povo, com pouca escolaridade, eram verdadeiros “artesãos das letras”. Laboriosos artistas, levavam muito a sério seu trabalho, em muitos casos eles mesmos produziam suas obras em prensas rudimentares.
Foi durante esse período que surgiu um célebre poeta de cordel, natural de Pombal na Paraíba, chamado: Leandro Gomes de Barros. Segundo o pesquisador Manuel Diegues Júnior, Leandro foi autor de mais de um milhar de folhetos. Pelo menos dois deles ficaram conhecidos Brasil a fora: O Cachorro dos Mortos e O Cavalo que Estercava Dinheiro, pois serviram de inspiração para a peça “O Auto da Compadecida”, do escritor paraibano Ariano Suassuna.
Leandro escrevia, imprimia e vendia os seus folhetos de cordel.
Da Paraíba eram os maiores cantadores de cordel, mas a capital do nordeste: Recife, o destino de todos. Foi para lá que se dirigiu João Martins de Athayde, também paraibano, Esse poeta foi um desbravador e industrializou, por assim dizer, os folhetos. Ele também foi o responsável pela consolidação e distribuição dos cordéis no Nordeste brasileiro por intermédio dos “agentes” nas décadas de 20 e 30 do século XX. Com essa “industrialização”, Athayde ajudou a padronizar o formato dos folhetos.
Acontece que antes dele, cada autor produzia suas obras em casa, de modo artesanal, razão de não haver à esta época um tamanho certo para o cordel. O formato que se conhece hoje foi conseqüência do empreendedor Athayde e os “modernos” equipamentos de sua gráfica. Os autores de folhetos acorriam de toda a região em busca dos rápidos serviços oferecidos na gráfica de Athayde. Assim, o formato foi se padronizando, chegando a ter esse que se encontra ainda hoje.
A Xilogravura
Frequentemente, na elaboração de um cordel, os autores requisitavam o trabalho de um outro artista popular: o xilógrafo - profissional indispensável na confecção das figuras tão típicas das capas dos folhetos. O serviço do xilógrafo persiste até hoje se mantendo a tradição. Mas encontrar profissionais que entalhem na madeira as tradicionais figuras não é tarefa fácil. Atualmente muitos desses artistas entalhadores envelheceram ou morreram sem deixar “herdeiros” para dar continuidade a sua arte.
José Soares da Silva, mais conhecido por Dila, com seu atelier no bairro Nossa Senhora das Graças na cidade de Caruaru, estado de Pernambuco, é um dos sobreviventes dessa arte. Dila já confeccionou xilogravuras para cordelistas importantes, entre eles Rodolfo Cavalcanti, poeta muito conhecido e já falecido. Rodolfo vendia seus cordéis no Mercado Modelo, na cidade de Salvador, nos anos sessenta e setenta.
Essas xilogravuras – o nome vem do grego "gravado na madeira" – tornaram-se emblemáticas e de extrema importância na venda dos folhetos. A clientela era atraída pelas figuras “carimbadas” nas capas com a tradicional tinta preta retratando a cena mais importante da história que iam comprar. Ainda hoje, passados mais de cem anos de vida do cordel, muita gente é atraída pela curiosa simplicidade dos traços e formas tão característicos.
O formato do cordel
As cores da capa dos cordéis parecem ter qualquer semiótica, por exemplo: os de capa cor-de-rosa são quase sempre de temas românticos, os de capa azul para temas gerais. Não existe nenhuma regra sobre as cores, mas observou-se que é frequente .
O tamanho dos folhetos de cordel tornou-se, após a padronização feita por Athayde, o que corresponde à quarta parte de uma folha de papel tamanho ofício; cada folha produzindo oito páginas com três a quatro estrofes em cada uma, não sendo uma regra, existem muitos com mais estrofes. O cordel sempre foi impresso com base na economia de material. Mesmo atualmente, o número de folhas se mantém: sempre de oito, dezesseis, vinte e quatro, multiplicando-se nessa seqüência.
No sertão nordestino daquele tempo, lugar de escassos recursos, o papel era uma preciosidade e a oferta dessa matéria-prima não era tão grande como em nossos dias.
Tal subsídio era de qualidade inferior, tipo papel- jornal; os folhetos tinham um preço bem acessível, alguns trocados, equivalente ao preço de um periódico simples de cidade de interior, nos nossos dias. Levava-se em conta que o público que o compraria, muitas vezes vinha com o dinheiro contado para a feira.
O cordel nas feiras concorria com gêneros de primeira necessidade. O cantador tinha que ser bom de goela, cantar alto seus poemas e chamar a atenção dos clientes.
Com uma concorrência grande e os outros “mascates” vendendo farinha, remédios do mato, banha de peixe-boi e tantos outros artigos, as feiras tornava-se uma verdadeira batalha de gritos e de sons cantados, pois cada um apregoava com afinco as suas mercadorias.
Fato curioso era a estratégia de venda dos cordelistas. Contavam ou cantavam as histórias, propositalmente, pela metade, no intuito de atiçar a curiosidade dos ouvintes, e quem quisesse saber o resto das mesmas teria de desembolsar algumas moedas, fruto de seu tão suado trabalho. Mas esse sacrifício nunca fora levado em conta pelos camponeses; comprar um cordel fazia parte de um ritual, acontecimento tão esperado pelos adultos e crianças: ir à feira.
Era importante para o povo da roça comprar esse “primitivo jornal”, por tratar-se de uma fonte de notícias da cidade e dos causos da região. Já no regresso ao sítio, o mesmo seria soletrado com dificuldade ou lido com devoção por alguém mais letrado, em volta do candeeiro, como relata Câmara Cascudo em seu livro: Vaqueiros e cantadores.
"As personagens do Cordel"
Esses artistas conheciam bem os macetes para atrair o público; suas histórias caiam no gosto dos sertanejos. Desta maneira, ao longo do tempo em que durou o auge do cordel, tornaram-se os verdadeiros mantenedores de uma tradição.
A condição de liberdade dos cordelistas em suas andanças entre cidades e arruados sertanejos lhes proporcionava muitas chances de tomar conhecimento de vasta gama de acontecimentos. Eles coletavam esses acontecimentos que seriam “cordelizados “ usando aqui um termo novo, para vendê-los , era esse seu trabalho .O produto dos cantadores equiparava-se às outras mercadorias oferecidas na feira. “Era o trabalho da fala”, como afirma: Antônio Arantes.
A preferência dos ouvintes por temas contados em versos não era exatamente questão de gosto poético. Tratava-se de necessidade mesmo, visto que no local onde o cordel se desenvolvia existia um enorme número de iletrados. A tradição oral se fazia necessária para ajudar na memorização. Mesmo sem saber ler, os sertanejos ouviam as histórias e graças aos versos e à musicalidade, gravavam as mesmas num ininterrupto filão epopeico.
Os cordelistas detinham o conhecimento de certos personagens épicos tradicionais como: Camonje, João Grilo, Bocage, Pedro Malasartes e tantos outros, os quais invariavelmente tinham incursões nas histórias contadas por eles. Essa prática exigia certo domínio e familiaridade com os temas, porque cada um desses lendários personagens aqui citados, representava determinadas características. Explica-se: Camões, sábio e aventureiro; Bocage: fanfarrão e mulherengo; João Grilo: cômico; e assim por diante. Os cordelistas “convocavam“, sempre que necessário, qualquer uma dessas personagens aos palcos de seus “cânticos da épica sertaneja”. Os leitores, por sua vez, conheciam bem as personagens com as quais se identificavam, num contexto vivido em comum.
O trânsito dessas personagens no imaginário do cordel mais a paisagem sertaneja, tão cheia de percalços com seus santos e demônios, eram velhos conhecidos desses artistas. Os compradores e ouvintes do cordel identificavam esses detalhes, folheto a folheto, numa história sem fim que só o povo do cordel compreendia, já que se identificava nela.
Vale registrar que em pesquisas realizadas no extremo sul da Bahia, entre as cidades de Porto Seguro e Itabuna, não foi encontrada uma difusão do cordel. A aproximação desta região com os estados do Sudeste, como Espírito Santo e Minas Gerais, fez com que a cultura propagada fosse a de lá e não a nordestina. Contudo, em Itabuna, um cordelista se fez presente, Minelvino Francisco Silva.
Fazendo-se uma arqueologia dos folhetos de cordel percebe-se que emerge dele certo traço caricatural. Os épicos de cavalaria e a da novelística ibérica trazida pelo colonizador foram sobrepostos; essas temáticas foram recriadas pelos cantadores na gesta do cangaço e nas lides do gado, dessa forma os heróis europeus cruzaram o Atlântico e transformaram-se em O valete Zé Garcia , Lampião e Antônio Silvinho. Um arremedo, criado pelo imaginário sertanejo, sobre o longínquo Portugal. As histórias da tradição lusitana, sendo recontadas oralmente por uma população de analfabetos, explicam o caráter cômico do cordel nordestino.
Por que chamá-lo "Cordel"
Até o início do estado novo, nos anos trinta, num passado relativamente próximo, o sertão nordestino (área que se estende desde o oeste de Pernambuco, norte da Bahia e sul do Ceará, região também conhecida como polígono da seca nordestino), permaneceu em relativo isolamento. Sem acesso por estradas, com um solo pobre para agricultura, ficou de fora dos avanços e das modernidades que aconteciam no sul e sudeste do Brasil. Desde a época da colonização, a população local manteve-se afastada, sem muita miscigenação,exceto a cabocla , vivendo numa espécie de redoma. Com terras pouco produtivas não houve demanda por escravos e menos ainda interesse de instalar-se, por parte dos imigrantes europeus do séc XIX, durante a grande imigração. Isso promoveu um relativo isolamento, preservando uma certa pureza da língua portuguesa e suas tradições. O fato foi confirmado por Câmara Cascudo, folclorista potiguar que nos anos cinquenta encontrou um correspondente de nosso folheto em Portugal, lá chamado de "cordel" por causa do costume dos autores populares portugueses exporem os mesmos pendurados em barbante ou cordão.
É a partir dos estudos de Câmara Cascudo que nossos folhetos, conhecidos até então como "folhetos de feira" ou "folhetos de banca", “ABC” receberam a denominação "Cordel", o mesmo nome dado em Portugal . Dessa maneira, cordel foi um nome genérico dado nos estudos acadêmicos. É algo recente, quando essa Literatura já declinava, passando para objeto de estudo.
O declínio
O fim do Cordel e de sua forma tão original veio de forma avassaladora. Vilões poderosos, utilizando-se das invenções de Guglielmo Marconi nas transmissões sem fios por ondas eletromagnéticas, iriam silenciar os trovadores e os menestréis. O rádio e depois a televisão levariam a melhor nessa luta ímpar. As estradas ampliariam irremediavelmente o mundo do cordel: as montanhas do sertão foram transpassadas, o sertanejo nordestino começava seu longo êxodo rumo à construção de Brasília e às grandes obras de São Paulo. Os temas do cordel foram profundamente alterados, já não se restringiam tão somente às fronteiras daquele "pequeno Portugal nordestino". As produções que seguiram foram profundamente influenciadas pelos temas urbanos. Nascia o Cordel "acontecimental" usando um termo do professor cearense Diatahy Bezerra de Menezes, registrando fatos históricos da atualidade. Por exemplo, o Cordel sobre a morte de Getúlio Vargas vendeu mais de setenta mil cópias em 48 horas, talvez um espasmo ou uma Fênix que renasce das cinzas, além fronteiras.
Hoje o cordel sobrevive apenas em exíguos redutos nordestinos como Juazeiro do Ceará, Caruaru , Campina Grande, Rio de Janeiro e no bairro Santo Amaro na cidade de São Paulo locais onde elegantes turistas afluem a ele para, em tradicionais barracas, escutar as antigas sagas ou novas criações urbanas, frutos da produção dos neo trovadores. É fácil também encontrá-lo em acervos nas bibliotecas e existem, até, duas conhecidas Academias de Letras de Cordel: uma em Caruaru e outra no Rio de Janeiro. - a segunda é presidida por Gonçalo Ferreira da Silva que muito contribui para preservação da cultura popular nordestina, e até na presente monografia forneceu material valioso para a sua execução.
É digno de nota que nossa literatura popular, dita cordel, nos últimos trinta anos vem despertando bastante interesse no meio acadêmico não só brasileiro, mas também no exterior. Em rápida pesquisa na internet se pode constatar inúmeras teses e livros sobre o tema como um importante trabalho do italiano: Silvano PELOSO: Medievo nel Sertão. Tradizione medievale europea e archetipi della litteratura populare del Nordeste del Brasile. Napoli: Liguori Editore, 1984.
Enfim, documentando mais de um século e testemunhando a manifestação popular, o jornal do povo em versos fez seu papel antes do rádio e sobrevive à era da internet.
Resumo de parte da monografia do autor Luís Emanuel Cavalcanti
Escrito por poetas trovadores e gritado pelos mesmos nas feiras ensolaradas do Nordeste do Brasil, é exposto e pendurado aos montes nas barracas. Este é o Cordel, poesia popular, conto, epopéia que do século XIX chega aos nossos dias.
A produção em grande escala do cordel nordestino compreendeu o período de final do séc. XIX aos anos 30 do século passado. Essa foi a época de sua maior difusão, na qual a presença de poetas cantadores nas feiras livres no sertão do Nordeste brasileiro era frequente. Os cantadores de cordel, geralmente homens do povo, com pouca escolaridade, eram verdadeiros “artesãos das letras”. Laboriosos artistas, levavam muito a sério seu trabalho, em muitos casos eles mesmos produziam suas obras em prensas rudimentares.
Foi durante esse período que surgiu um célebre poeta de cordel, natural de Pombal na Paraíba, chamado: Leandro Gomes de Barros. Segundo o pesquisador Manuel Diegues Júnior, Leandro foi autor de mais de um milhar de folhetos. Pelo menos dois deles ficaram conhecidos Brasil a fora: O Cachorro dos Mortos e O Cavalo que Estercava Dinheiro, pois serviram de inspiração para a peça “O Auto da Compadecida”, do escritor paraibano Ariano Suassuna.
Leandro escrevia, imprimia e vendia os seus folhetos de cordel.
Da Paraíba eram os maiores cantadores de cordel, mas a capital do nordeste: Recife, o destino de todos. Foi para lá que se dirigiu João Martins de Athayde, também paraibano, Esse poeta foi um desbravador e industrializou, por assim dizer, os folhetos. Ele também foi o responsável pela consolidação e distribuição dos cordéis no Nordeste brasileiro por intermédio dos “agentes” nas décadas de 20 e 30 do século XX. Com essa “industrialização”, Athayde ajudou a padronizar o formato dos folhetos.
Acontece que antes dele, cada autor produzia suas obras em casa, de modo artesanal, razão de não haver à esta época um tamanho certo para o cordel. O formato que se conhece hoje foi conseqüência do empreendedor Athayde e os “modernos” equipamentos de sua gráfica. Os autores de folhetos acorriam de toda a região em busca dos rápidos serviços oferecidos na gráfica de Athayde. Assim, o formato foi se padronizando, chegando a ter esse que se encontra ainda hoje.
A Xilogravura
Frequentemente, na elaboração de um cordel, os autores requisitavam o trabalho de um outro artista popular: o xilógrafo - profissional indispensável na confecção das figuras tão típicas das capas dos folhetos. O serviço do xilógrafo persiste até hoje se mantendo a tradição. Mas encontrar profissionais que entalhem na madeira as tradicionais figuras não é tarefa fácil. Atualmente muitos desses artistas entalhadores envelheceram ou morreram sem deixar “herdeiros” para dar continuidade a sua arte.
José Soares da Silva, mais conhecido por Dila, com seu atelier no bairro Nossa Senhora das Graças na cidade de Caruaru, estado de Pernambuco, é um dos sobreviventes dessa arte. Dila já confeccionou xilogravuras para cordelistas importantes, entre eles Rodolfo Cavalcanti, poeta muito conhecido e já falecido. Rodolfo vendia seus cordéis no Mercado Modelo, na cidade de Salvador, nos anos sessenta e setenta.
Essas xilogravuras – o nome vem do grego "gravado na madeira" – tornaram-se emblemáticas e de extrema importância na venda dos folhetos. A clientela era atraída pelas figuras “carimbadas” nas capas com a tradicional tinta preta retratando a cena mais importante da história que iam comprar. Ainda hoje, passados mais de cem anos de vida do cordel, muita gente é atraída pela curiosa simplicidade dos traços e formas tão característicos.
O formato do cordel
As cores da capa dos cordéis parecem ter qualquer semiótica, por exemplo: os de capa cor-de-rosa são quase sempre de temas românticos, os de capa azul para temas gerais. Não existe nenhuma regra sobre as cores, mas observou-se que é frequente .
O tamanho dos folhetos de cordel tornou-se, após a padronização feita por Athayde, o que corresponde à quarta parte de uma folha de papel tamanho ofício; cada folha produzindo oito páginas com três a quatro estrofes em cada uma, não sendo uma regra, existem muitos com mais estrofes. O cordel sempre foi impresso com base na economia de material. Mesmo atualmente, o número de folhas se mantém: sempre de oito, dezesseis, vinte e quatro, multiplicando-se nessa seqüência.
No sertão nordestino daquele tempo, lugar de escassos recursos, o papel era uma preciosidade e a oferta dessa matéria-prima não era tão grande como em nossos dias.
Tal subsídio era de qualidade inferior, tipo papel- jornal; os folhetos tinham um preço bem acessível, alguns trocados, equivalente ao preço de um periódico simples de cidade de interior, nos nossos dias. Levava-se em conta que o público que o compraria, muitas vezes vinha com o dinheiro contado para a feira.
O cordel nas feiras concorria com gêneros de primeira necessidade. O cantador tinha que ser bom de goela, cantar alto seus poemas e chamar a atenção dos clientes.
Com uma concorrência grande e os outros “mascates” vendendo farinha, remédios do mato, banha de peixe-boi e tantos outros artigos, as feiras tornava-se uma verdadeira batalha de gritos e de sons cantados, pois cada um apregoava com afinco as suas mercadorias.
Fato curioso era a estratégia de venda dos cordelistas. Contavam ou cantavam as histórias, propositalmente, pela metade, no intuito de atiçar a curiosidade dos ouvintes, e quem quisesse saber o resto das mesmas teria de desembolsar algumas moedas, fruto de seu tão suado trabalho. Mas esse sacrifício nunca fora levado em conta pelos camponeses; comprar um cordel fazia parte de um ritual, acontecimento tão esperado pelos adultos e crianças: ir à feira.
Era importante para o povo da roça comprar esse “primitivo jornal”, por tratar-se de uma fonte de notícias da cidade e dos causos da região. Já no regresso ao sítio, o mesmo seria soletrado com dificuldade ou lido com devoção por alguém mais letrado, em volta do candeeiro, como relata Câmara Cascudo em seu livro: Vaqueiros e cantadores.
"As personagens do Cordel"
Esses artistas conheciam bem os macetes para atrair o público; suas histórias caiam no gosto dos sertanejos. Desta maneira, ao longo do tempo em que durou o auge do cordel, tornaram-se os verdadeiros mantenedores de uma tradição.
A condição de liberdade dos cordelistas em suas andanças entre cidades e arruados sertanejos lhes proporcionava muitas chances de tomar conhecimento de vasta gama de acontecimentos. Eles coletavam esses acontecimentos que seriam “cordelizados “ usando aqui um termo novo, para vendê-los , era esse seu trabalho .O produto dos cantadores equiparava-se às outras mercadorias oferecidas na feira. “Era o trabalho da fala”, como afirma: Antônio Arantes.
A preferência dos ouvintes por temas contados em versos não era exatamente questão de gosto poético. Tratava-se de necessidade mesmo, visto que no local onde o cordel se desenvolvia existia um enorme número de iletrados. A tradição oral se fazia necessária para ajudar na memorização. Mesmo sem saber ler, os sertanejos ouviam as histórias e graças aos versos e à musicalidade, gravavam as mesmas num ininterrupto filão epopeico.
Os cordelistas detinham o conhecimento de certos personagens épicos tradicionais como: Camonje, João Grilo, Bocage, Pedro Malasartes e tantos outros, os quais invariavelmente tinham incursões nas histórias contadas por eles. Essa prática exigia certo domínio e familiaridade com os temas, porque cada um desses lendários personagens aqui citados, representava determinadas características. Explica-se: Camões, sábio e aventureiro; Bocage: fanfarrão e mulherengo; João Grilo: cômico; e assim por diante. Os cordelistas “convocavam“, sempre que necessário, qualquer uma dessas personagens aos palcos de seus “cânticos da épica sertaneja”. Os leitores, por sua vez, conheciam bem as personagens com as quais se identificavam, num contexto vivido em comum.
O trânsito dessas personagens no imaginário do cordel mais a paisagem sertaneja, tão cheia de percalços com seus santos e demônios, eram velhos conhecidos desses artistas. Os compradores e ouvintes do cordel identificavam esses detalhes, folheto a folheto, numa história sem fim que só o povo do cordel compreendia, já que se identificava nela.
Vale registrar que em pesquisas realizadas no extremo sul da Bahia, entre as cidades de Porto Seguro e Itabuna, não foi encontrada uma difusão do cordel. A aproximação desta região com os estados do Sudeste, como Espírito Santo e Minas Gerais, fez com que a cultura propagada fosse a de lá e não a nordestina. Contudo, em Itabuna, um cordelista se fez presente, Minelvino Francisco Silva.
Fazendo-se uma arqueologia dos folhetos de cordel percebe-se que emerge dele certo traço caricatural. Os épicos de cavalaria e a da novelística ibérica trazida pelo colonizador foram sobrepostos; essas temáticas foram recriadas pelos cantadores na gesta do cangaço e nas lides do gado, dessa forma os heróis europeus cruzaram o Atlântico e transformaram-se em O valete Zé Garcia , Lampião e Antônio Silvinho. Um arremedo, criado pelo imaginário sertanejo, sobre o longínquo Portugal. As histórias da tradição lusitana, sendo recontadas oralmente por uma população de analfabetos, explicam o caráter cômico do cordel nordestino.
Por que chamá-lo "Cordel"
Até o início do estado novo, nos anos trinta, num passado relativamente próximo, o sertão nordestino (área que se estende desde o oeste de Pernambuco, norte da Bahia e sul do Ceará, região também conhecida como polígono da seca nordestino), permaneceu em relativo isolamento. Sem acesso por estradas, com um solo pobre para agricultura, ficou de fora dos avanços e das modernidades que aconteciam no sul e sudeste do Brasil. Desde a época da colonização, a população local manteve-se afastada, sem muita miscigenação,exceto a cabocla , vivendo numa espécie de redoma. Com terras pouco produtivas não houve demanda por escravos e menos ainda interesse de instalar-se, por parte dos imigrantes europeus do séc XIX, durante a grande imigração. Isso promoveu um relativo isolamento, preservando uma certa pureza da língua portuguesa e suas tradições. O fato foi confirmado por Câmara Cascudo, folclorista potiguar que nos anos cinquenta encontrou um correspondente de nosso folheto em Portugal, lá chamado de "cordel" por causa do costume dos autores populares portugueses exporem os mesmos pendurados em barbante ou cordão.
É a partir dos estudos de Câmara Cascudo que nossos folhetos, conhecidos até então como "folhetos de feira" ou "folhetos de banca", “ABC” receberam a denominação "Cordel", o mesmo nome dado em Portugal . Dessa maneira, cordel foi um nome genérico dado nos estudos acadêmicos. É algo recente, quando essa Literatura já declinava, passando para objeto de estudo.
O declínio
O fim do Cordel e de sua forma tão original veio de forma avassaladora. Vilões poderosos, utilizando-se das invenções de Guglielmo Marconi nas transmissões sem fios por ondas eletromagnéticas, iriam silenciar os trovadores e os menestréis. O rádio e depois a televisão levariam a melhor nessa luta ímpar. As estradas ampliariam irremediavelmente o mundo do cordel: as montanhas do sertão foram transpassadas, o sertanejo nordestino começava seu longo êxodo rumo à construção de Brasília e às grandes obras de São Paulo. Os temas do cordel foram profundamente alterados, já não se restringiam tão somente às fronteiras daquele "pequeno Portugal nordestino". As produções que seguiram foram profundamente influenciadas pelos temas urbanos. Nascia o Cordel "acontecimental" usando um termo do professor cearense Diatahy Bezerra de Menezes, registrando fatos históricos da atualidade. Por exemplo, o Cordel sobre a morte de Getúlio Vargas vendeu mais de setenta mil cópias em 48 horas, talvez um espasmo ou uma Fênix que renasce das cinzas, além fronteiras.
Hoje o cordel sobrevive apenas em exíguos redutos nordestinos como Juazeiro do Ceará, Caruaru , Campina Grande, Rio de Janeiro e no bairro Santo Amaro na cidade de São Paulo locais onde elegantes turistas afluem a ele para, em tradicionais barracas, escutar as antigas sagas ou novas criações urbanas, frutos da produção dos neo trovadores. É fácil também encontrá-lo em acervos nas bibliotecas e existem, até, duas conhecidas Academias de Letras de Cordel: uma em Caruaru e outra no Rio de Janeiro. - a segunda é presidida por Gonçalo Ferreira da Silva que muito contribui para preservação da cultura popular nordestina, e até na presente monografia forneceu material valioso para a sua execução.
É digno de nota que nossa literatura popular, dita cordel, nos últimos trinta anos vem despertando bastante interesse no meio acadêmico não só brasileiro, mas também no exterior. Em rápida pesquisa na internet se pode constatar inúmeras teses e livros sobre o tema como um importante trabalho do italiano: Silvano PELOSO: Medievo nel Sertão. Tradizione medievale europea e archetipi della litteratura populare del Nordeste del Brasile. Napoli: Liguori Editore, 1984.
Enfim, documentando mais de um século e testemunhando a manifestação popular, o jornal do povo em versos fez seu papel antes do rádio e sobrevive à era da internet.
SÃO JOSÉ DA LAJE - AL HISTÓRIA DA LADEIRA DA MELANCIA
Amigo esta é uma história
É um caso de arrepiar
Não é mentira o que eu falo
Quem quiser vá comprovar
Só tenha muito cuidado
Da morte não apressar
Perguntei pra Seu Mané
E notei que ele sabia
Quantas mortes que já tinha
Na curva da melancia
Me disse que há muito tempo
Essa conta ele fazia
E já passou de uns mil
Que a malvada já levou
E só de uma vez foi trinta
Que a curva as vidas cepou
Assim ele foi contando
Cada caso que guardou
Sua casa é bem em cima
E dá pra tudo enxergar
Se ele escuta estrondo e grito
Mesma noite vai olhar
Ele desce a ribanceira
Pra conta dele aumentar
Vai com seu caderno e lápis
Lanterna pra clarear
Ajuda até a polícia
As vítimas encontrar
Das contas do Seu Mané
Quem é que vai duvidar
Aluno de faculdade
Que estava quase formando
Casal de noivo abraçado
Padeceram se amassando
E por aí foi Seu Mané
Cada caso detalhando
Teve uma kombi de velhos
Que vinha pro FUNRURAL
Foi feia essa bagaceira
Placa voou no quintal
Ficou foi velho espalhado
Dentro do canavial
Pobrezinhos dos velhinhos
Nem chegaram a aposentar
É que o bicho do chofer
Falava no celular
Matou ele os coitadinhos
E fez o sonho acabar
O Seu Mané tudo anota
Pelo sexo, idade e dia
Os que o destino encontraram
Na curva da melancia
Ele nem sabe o porquê
E de onde vem a mania
Disse que fica ocupado
No tempo do carnaval
Quem vai para Maceió
Fica no canavial
Muita notícia ele dá
Pro povo ver no jornal
Eles bebem tudo em casa
Passam cheios da cachaça
Correm, nem estão ligando
Achando que tudo é graça
Se acabam e nada vêem
Quando o buracão lhe abraça
Ônibus cheio de matuto
Sumindo no sumidouro
Nem dá pra Deus perdoar
Nem se escuta nem o choro
Esses cabras nem percebem
A gente só vê estouro
Até padre vem benzer
Pra esses males espantar
Mas nada disso adianta
E ninguém vai se salvar
Esse é mais um mistério
E a NASA sem explicar
Temos aqui no nordeste
Um triângulo das bermudas
Desafia entendimento
Essas curvas narigudas
Se dirigires pra lá
Seja atento, não te iludas
Olhe pro lado da Usina
Penda para Serra Grande
Tu vai descer essa penha
Pois o Pai do céu é grande
Ele vai te proteger
A lista do velho é grande
Até turista argentino
Foi dançar tango no céu
E sumiu no buracão
Nem comeu sarapatel
Ele faz parte da lista
De quem foi pro beleléu
Perguntei pro Seu Mané
Se algum caso lhe marcou
Ele olhou distante e disse
Que uma menina passou
Ela dirigia o carro
Coitadinha me acenou
Ela sumiu foi no mundo
Pros lados de Ibateguara
Certamente pra ladeira
A menina não olhara
Ela olhou muito pra mim
O dia dela chegara
Teve uma horrível batida
Matando a muitos crentes
Caíram eles e as freiras
E até em tempos recentes
Meninos no mato achavam
Seus crucifixos pingentes
Por último teve um jegue
Ele viajava pra Lage
Vinha lá de Canhotinho
Se encantou com a paisagem
Também não viu o buraco
E pensou que era pastagem
Isto aqui é um alerta
Para o mundo se cuidar
Dirijam com atenção
Pra curva não lhe pegar
Que as mortes na melancia
Cada vez vai aumentar
É um caso de arrepiar
Não é mentira o que eu falo
Quem quiser vá comprovar
Só tenha muito cuidado
Da morte não apressar
Perguntei pra Seu Mané
E notei que ele sabia
Quantas mortes que já tinha
Na curva da melancia
Me disse que há muito tempo
Essa conta ele fazia
E já passou de uns mil
Que a malvada já levou
E só de uma vez foi trinta
Que a curva as vidas cepou
Assim ele foi contando
Cada caso que guardou
Sua casa é bem em cima
E dá pra tudo enxergar
Se ele escuta estrondo e grito
Mesma noite vai olhar
Ele desce a ribanceira
Pra conta dele aumentar
Vai com seu caderno e lápis
Lanterna pra clarear
Ajuda até a polícia
As vítimas encontrar
Das contas do Seu Mané
Quem é que vai duvidar
Aluno de faculdade
Que estava quase formando
Casal de noivo abraçado
Padeceram se amassando
E por aí foi Seu Mané
Cada caso detalhando
Teve uma kombi de velhos
Que vinha pro FUNRURAL
Foi feia essa bagaceira
Placa voou no quintal
Ficou foi velho espalhado
Dentro do canavial
Pobrezinhos dos velhinhos
Nem chegaram a aposentar
É que o bicho do chofer
Falava no celular
Matou ele os coitadinhos
E fez o sonho acabar
O Seu Mané tudo anota
Pelo sexo, idade e dia
Os que o destino encontraram
Na curva da melancia
Ele nem sabe o porquê
E de onde vem a mania
Disse que fica ocupado
No tempo do carnaval
Quem vai para Maceió
Fica no canavial
Muita notícia ele dá
Pro povo ver no jornal
Eles bebem tudo em casa
Passam cheios da cachaça
Correm, nem estão ligando
Achando que tudo é graça
Se acabam e nada vêem
Quando o buracão lhe abraça
Ônibus cheio de matuto
Sumindo no sumidouro
Nem dá pra Deus perdoar
Nem se escuta nem o choro
Esses cabras nem percebem
A gente só vê estouro
Até padre vem benzer
Pra esses males espantar
Mas nada disso adianta
E ninguém vai se salvar
Esse é mais um mistério
E a NASA sem explicar
Temos aqui no nordeste
Um triângulo das bermudas
Desafia entendimento
Essas curvas narigudas
Se dirigires pra lá
Seja atento, não te iludas
Olhe pro lado da Usina
Penda para Serra Grande
Tu vai descer essa penha
Pois o Pai do céu é grande
Ele vai te proteger
A lista do velho é grande
Até turista argentino
Foi dançar tango no céu
E sumiu no buracão
Nem comeu sarapatel
Ele faz parte da lista
De quem foi pro beleléu
Perguntei pro Seu Mané
Se algum caso lhe marcou
Ele olhou distante e disse
Que uma menina passou
Ela dirigia o carro
Coitadinha me acenou
Ela sumiu foi no mundo
Pros lados de Ibateguara
Certamente pra ladeira
A menina não olhara
Ela olhou muito pra mim
O dia dela chegara
Teve uma horrível batida
Matando a muitos crentes
Caíram eles e as freiras
E até em tempos recentes
Meninos no mato achavam
Seus crucifixos pingentes
Por último teve um jegue
Ele viajava pra Lage
Vinha lá de Canhotinho
Se encantou com a paisagem
Também não viu o buraco
E pensou que era pastagem
Isto aqui é um alerta
Para o mundo se cuidar
Dirijam com atenção
Pra curva não lhe pegar
Que as mortes na melancia
Cada vez vai aumentar
sábado, 9 de maio de 2009
"CLODOVIL FOI PRA O CÉU NO CORDEL"
Segunda-feira, 4 de Maio de 2009
"A Chegada Triunfal do Deputado Clodovil ao Céu" ( em versos de cordel ) Autor: Luís Emanuel Cavalcanti
1
Vamo lá musas matuta
Acordem vamo ajudá
Clodovil chegô no céu
Precisamo cordelar
O povo tem que saber
Que ele era espiciá
2
Se Patativa da Assaré
Ainda tivesse por cá
Ia fazê um ABC
Pra lhe homenagiá
Mas aqui a gente inventa
Vamo tentá lhi imitá
3
Entre tanto diputado
Um de classe foi chegá
Pra lembrá que a verdade
Sempre prevalecerá
Nem que seja a mais dura
O cabra tem que aguentá
4
Munta gente tinha raiva
Uns até ia chorá
Clodovil era assim mermo
Num pudia cutucá
Pois sortava as cachorra
Num pudia se enfezá
5
Oradô pra vê duê
Falava pra sustentá
Não tinha essa de jeitim
Depois ir se descurpá
Clodovir era na bucha
Pois butava pra quebrá
6
Um dia lhe perguntaro
Sobre o significado
Do nome de Clodovir
Ele disse é cumpricado
Pois inté nesse meu nome
Fala dos meu predicado
7
É um nome de três sílaba
Primeira: "Clô" pros chegado
A do mei do verbo dá
Eu "Dô" sempre de bom grado
E finarmente vem o "Vir"
Pois sô "Vir" contrariado
8
Doela em quem doela
Custumava ele falá
Mas por que será o home
Foi tão cedo nos deixá?
A câmara ficô chata
A rotina vai vortá
9
Vai ficá sem colorido
Preto e branco pra daná
Os mermo home sisudo
Cum paletó tudo iguá
Sem as tirada inteligente
Que só ele sabia dá
10
Deixa pra lá a câmara
Que saiu no prejuízo
Pois o nosso diputado
Já tá é no paraíso
E nós conta tudo agora
Nesse momento preciso
11
Sum Pedro tava no céu
Seu móio de chave na mão
Por cima uns querumbim
Desenhando um coração
Do jeito que Maria Braga
Faz na televisão
12
As trombeta ia tocano
Fazeno anunciação
Di rumpante o diputado
Chega numa produção
Todo chei de purpurina
Brilhano qui nem pavão
13
A rôpa dele iguarzinha
Todo lorde bem marcante
Com aquele jeito artivo
Cas parença insfuziate
Sum Pedro se admirô
Lhe achô foi elegante
14
Começô as homenage
Hôve munta lovação
Pra contá tanta façanha
Do tão nobre cidadão
Pois no céu si faz assim
Com quem merece atenção
15
Por fim o santo chavêro
Lhe mandô pra um gabinete
Dizeno: ói! Clodovir
Mandei butá munto infeite
Tá mió qui o de Brasílha
Espero que tu aproveite
16
Pedo diz a dois anjim
Acumpanhe o diputado
Esse corredô do céu
Os camim é cumpricado
E pode sê que Clodovir
Si disvie pra outro lado
17
Aí fôro os três seguino
Por aquela imensidão
Clodovir mais os anjim
Andaram um pedação
No que avista o gabinete
Clodovir sorta um gritão
18
Pois na porta bem armado
Tava são Sebastião
Clodovir reconheceu
Pois logo beja-lhe as mão
Dizendo oh,meu santinho
Cuma é grande a imoção
19
Mas que má lhe pregunte
O que faz nesse rincão
Um santo cumo vosmecê
Num mereço essa atenção
São Sebastião só diz
Tô aqui pra uma missão
20
E Sigura Clodovil
Pidino pra se assentá
Pois a sercunstança ia
Intá mermo imocioná
Clodovir cum medo diz
Vosmincê vá divagá
21
O santo logo lhe diz
É sobre sua incarnação
O sinhô será mandado
Pra uma vila do sertão
Vai renacer como um home
Iguarmenti um Lampião
22
Cum jeito de cabra macho
Defendeno os oprimido
Pois o rico exploradô
Nunca terá veiz cunsigo
Clodovir dá é um grito
Dizeno que era um castigo
23
Pois num gosto de Caatinga
Eu só vô é me espinhá
São Sebastião lhe diz
Você vai se acustumá
Vai tê também uns filinho
E uma mulhé pra lhe amá
24
Num vai mas sê cuma antes
Qui viveu só sem mulhé
Uma vida assim sozim
Meu Deus quem qué ?
Se aprumá logo meu fio
Se alevante tenha fé
25
Clodovir chorano diz
Já deu pra me arripuná
O sinhô tá é sonhado
Pode o destino mudá
Só fartava agora essa!
O sinhô vim me casá
26
Oh! Não que pesadelo
Quando eu vô me acordá.
Nisso chega Lampião
Dizeno: esse cabra vai já
Tu tás com muito chamego
Tu é home ou uma preá
27
Bora vomo discançá
Que amenhã tu já desce
Clodovir vira pra ele
Ora vê se tu me esquece!
Lampião lhe falô grosso:
"Cabra tu não me connhece"
28
Clô chorano muito diz:
São Sebastião vem cá !
Pelo amor de Deus
O sinhô vem me sarvá
Mas o santo diz: meu fio
Mais nada posso mudá
29
Lampião apaga a luz
Mandô o povo si calá
E a histora acaba aqui
Num tem mais para contá
Com coroné Lampião
Quem é que vai cuntestá
Clodovil ia achar esse cordel podre...
"A Chegada Triunfal do Deputado Clodovil ao Céu" ( em versos de cordel ) Autor: Luís Emanuel Cavalcanti
1
Vamo lá musas matuta
Acordem vamo ajudá
Clodovil chegô no céu
Precisamo cordelar
O povo tem que saber
Que ele era espiciá
2
Se Patativa da Assaré
Ainda tivesse por cá
Ia fazê um ABC
Pra lhe homenagiá
Mas aqui a gente inventa
Vamo tentá lhi imitá
3
Entre tanto diputado
Um de classe foi chegá
Pra lembrá que a verdade
Sempre prevalecerá
Nem que seja a mais dura
O cabra tem que aguentá
4
Munta gente tinha raiva
Uns até ia chorá
Clodovil era assim mermo
Num pudia cutucá
Pois sortava as cachorra
Num pudia se enfezá
5
Oradô pra vê duê
Falava pra sustentá
Não tinha essa de jeitim
Depois ir se descurpá
Clodovir era na bucha
Pois butava pra quebrá
6
Um dia lhe perguntaro
Sobre o significado
Do nome de Clodovir
Ele disse é cumpricado
Pois inté nesse meu nome
Fala dos meu predicado
7
É um nome de três sílaba
Primeira: "Clô" pros chegado
A do mei do verbo dá
Eu "Dô" sempre de bom grado
E finarmente vem o "Vir"
Pois sô "Vir" contrariado
8
Doela em quem doela
Custumava ele falá
Mas por que será o home
Foi tão cedo nos deixá?
A câmara ficô chata
A rotina vai vortá
9
Vai ficá sem colorido
Preto e branco pra daná
Os mermo home sisudo
Cum paletó tudo iguá
Sem as tirada inteligente
Que só ele sabia dá
10
Deixa pra lá a câmara
Que saiu no prejuízo
Pois o nosso diputado
Já tá é no paraíso
E nós conta tudo agora
Nesse momento preciso
11
Sum Pedro tava no céu
Seu móio de chave na mão
Por cima uns querumbim
Desenhando um coração
Do jeito que Maria Braga
Faz na televisão
12
As trombeta ia tocano
Fazeno anunciação
Di rumpante o diputado
Chega numa produção
Todo chei de purpurina
Brilhano qui nem pavão
13
A rôpa dele iguarzinha
Todo lorde bem marcante
Com aquele jeito artivo
Cas parença insfuziate
Sum Pedro se admirô
Lhe achô foi elegante
14
Começô as homenage
Hôve munta lovação
Pra contá tanta façanha
Do tão nobre cidadão
Pois no céu si faz assim
Com quem merece atenção
15
Por fim o santo chavêro
Lhe mandô pra um gabinete
Dizeno: ói! Clodovir
Mandei butá munto infeite
Tá mió qui o de Brasílha
Espero que tu aproveite
16
Pedo diz a dois anjim
Acumpanhe o diputado
Esse corredô do céu
Os camim é cumpricado
E pode sê que Clodovir
Si disvie pra outro lado
17
Aí fôro os três seguino
Por aquela imensidão
Clodovir mais os anjim
Andaram um pedação
No que avista o gabinete
Clodovir sorta um gritão
18
Pois na porta bem armado
Tava são Sebastião
Clodovir reconheceu
Pois logo beja-lhe as mão
Dizendo oh,meu santinho
Cuma é grande a imoção
19
Mas que má lhe pregunte
O que faz nesse rincão
Um santo cumo vosmecê
Num mereço essa atenção
São Sebastião só diz
Tô aqui pra uma missão
20
E Sigura Clodovil
Pidino pra se assentá
Pois a sercunstança ia
Intá mermo imocioná
Clodovir cum medo diz
Vosmincê vá divagá
21
O santo logo lhe diz
É sobre sua incarnação
O sinhô será mandado
Pra uma vila do sertão
Vai renacer como um home
Iguarmenti um Lampião
22
Cum jeito de cabra macho
Defendeno os oprimido
Pois o rico exploradô
Nunca terá veiz cunsigo
Clodovir dá é um grito
Dizeno que era um castigo
23
Pois num gosto de Caatinga
Eu só vô é me espinhá
São Sebastião lhe diz
Você vai se acustumá
Vai tê também uns filinho
E uma mulhé pra lhe amá
24
Num vai mas sê cuma antes
Qui viveu só sem mulhé
Uma vida assim sozim
Meu Deus quem qué ?
Se aprumá logo meu fio
Se alevante tenha fé
25
Clodovir chorano diz
Já deu pra me arripuná
O sinhô tá é sonhado
Pode o destino mudá
Só fartava agora essa!
O sinhô vim me casá
26
Oh! Não que pesadelo
Quando eu vô me acordá.
Nisso chega Lampião
Dizeno: esse cabra vai já
Tu tás com muito chamego
Tu é home ou uma preá
27
Bora vomo discançá
Que amenhã tu já desce
Clodovir vira pra ele
Ora vê se tu me esquece!
Lampião lhe falô grosso:
"Cabra tu não me connhece"
28
Clô chorano muito diz:
São Sebastião vem cá !
Pelo amor de Deus
O sinhô vem me sarvá
Mas o santo diz: meu fio
Mais nada posso mudá
29
Lampião apaga a luz
Mandô o povo si calá
E a histora acaba aqui
Num tem mais para contá
Com coroné Lampião
Quem é que vai cuntestá
Clodovil ia achar esse cordel podre...
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