Clarisvânia Moça
Autor: Emanuel Cavalcanti
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A aluna Clarisvânia
Comoveu o coração
Com a primeira história
Foi muita superação
Esta aqui é a segunda
Pra dar continuação
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Vamos aprender um pouco
Quem sabe uma lição
Pra saber o que acontece
Com nossa Educação
Pois Clarisvânia é crítica
No seu anglo de visão
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Certo é que a menina
Tinha um Q.I altíssimo
E continuou aprendendo
De um modo rapidíssimo
Já que foi pra o Cientifico
Um curso complicadíssimo
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Mas Dinalva sua mãe
Muito bem dela cuidava
Ajudava nos deveres
Que a mente acompanhava
Quando era bem difícil
Ia lá e pesquisava
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Incentivar Clarisvânia
Era a sua missão
E pra vê-la graduada
Não media esforço não
Apesar de a Dinalva
Ter só o Admissão
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Com uma mãe desse jeito
Dando tanta educação
Clarisvânia era bem quista
Perante a população
De prefeito a faxineiro
Tinha consideração
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A ponto de fim de ano
Nas festas de formatura
A menina ser chamada
Pra o discurso de abertura
Pois era muito famosa
Por sua desenvoltura
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E assim tudo foi indo
Os anos passando bem
Clarisvânia nos estudos
Só tirando média cem
Mas a vida já sabemos
É cheia de vai-e-vem
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E um dia mais ou menos
Pertinho do carnaval
Clarisvânia chega em casa
Meio fora do normal
E vai dizer a mãe dela
Um relato infernal
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A mãe disse para a filha
É melhor se acalmar
Esfriar essa cabeça
Se não vai puder falar
Mas ela só disse, mãe
Desse jeito assim não dá
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Eu me preparei foi muito
Pra o curso terminar
Passei noites acordada
Fui aula particular
E agora os professores
Vão tudo paralisar
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Outra greve minha mãe
Hoje foram avisar
A partir de amanhã
A escola vai parar
Eita que notícia ruim!
Pra quem gosta de estudar
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Eu não quero tá em casa
Sem nada para fazer
Pois eu fico só zanzando
Que é para endoidecer
É tão chato minha mãe
Tá em casa sem dever...
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Clarisvânia estava certa
Em sua reclamação
Pois no ano anterior
Foi a mesma situação
A pobre ficou sem aula
E sem férias de verão
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Que tristeza pra menina
Sempre tão estudiosa
Que não ficava no fundo
Pois não gostava de prosa
Clarisvânia era da frente
E não era preguiçosa
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Mas o que a mãe falou
Foi logo para mudar
Ela disse: “Clarisvânia
Deixa esse troço pra lá
Pois na tal dessa escola
Tu não vai mais estudar”
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“Nós vamos pra Juazeiro
Lá é grande o lugar
E vai ter escola boa
Da rede particular
Não vamos perder mais tempo
Esperando melhorar”
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“Eu só tenho tu na vida
Não vou mais me arriscar
Esperando esse inferno
Dessas greve terminar
Comigo não tem arrego
Eu não vou mais aguentar”
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“Amanhã vou no colégio
Pegar tua transferência
Só isso e nada mais
Não quero concupiscência
Nem escutar diretora
Mandando ter paciência”
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“O jeito que tem é ir
Pra escola particular
Já acreditei foi muito
Que a coisa ia mudar
Mas é greve com mais greve
Isso não vai acabar”
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E assim aconteceu
Era fim de fevereiro
Ela vendeu o que tinha
Foi bode e foi carneiro
E foram de mala e cuia
Pras banda de Juazeiro
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Não demora muito tempo
Depois de terem chegado
Acharam escola boa
Tudo certo e ajeitado
Clarisvânia gostou muito
Disse que era organizado
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As greves não iam ter
Isso ficou no passado
Acabou preocupação
De tá tudo atrasado
Agora era estudar
E pagar o combinado
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Dinalva achou serviço
Numa plantação de uva
Pois era da agricultura
E caiu como uma luva
Ainda mais que era pertinho
Logo depois de uma curva
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Assim foram acertando
Com essa nova rotina
Quando era fim de semana
Dinalva mais a menina
Atravessavam a ponte
Pra andar por Petrolina
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Logo veio o fim do ano
Todo cheio de sacrifício
Mas a nossa Clarisvânia
Com esforço e ofício
Foi a primeira da classe
Como foi desde o início
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Sua fama se espalhou
Mesmo na nova cidade
Era gente elogiando
A sua genialidade
Diziam: “ela é danada
Sabe com propriedade”
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Até gente da política
Quis a ela conhecer
Esse povo não tem jeito
Já gosta de aparecer
E sóestrela brilhar
Que já vem se promover
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Foi um certo candidato
Com cara de gente fina
Que ao saber de seu sucesso
Em tudo que é disciplina
Foi lá na escola dela
Pra falar com a menina
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E veio com a conversa
Que só políticos têm
Essas coisas que eles falam
Quando pra eles convêm
E foi assim que ele disse:
“Minha filha tudo bem!”
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“Daqui mais umas semanas
Vai ter o vestibular
Se você tiver a fim
Dum curso particular
“Pode deixar que os custos
Se eu ganhar vou lhe pagar”
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Clarisvânia diz a ele:
“Desculpe lhe perguntar
Mas queriasó saber
Como vai funcionar
Pois se for com “o jeitinho”
É melhor nem me falar”
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“Se o lance dessa bolsa
For assim de qualquer jeito
Eu não vou aceitar ela
Por eu não achar direito
Agora se for certinho
Desse jeito, eu aceito”
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“Se todos os vereadores
Câmera municipal
Votar o seu patrocínio
Em sessão especial
Eu aceito o incentivo
Vou até achar legal”
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“Eu gosto do que é certo
Nada fora do lugar
Mas acho que tá faltando
Primeiro o senhor ganhar
Por enquanto é só conversa
Então deixa isso pra lá”
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O candidato a olhou
Fitou bem daquele jeito
E disse: “eita menina!
Tu é cheia dos preceito
Espera só mais um pouco
Deixa eu virar prefeito”
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Clarisvânia deu tchaw
Dizendo vou estudar
Fazer tudo que puder
Pra mamãe eu agradar
Pra não precisar de bolsa
E não lhe incomodar
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E depois dessa conversa
Quando voltou da escola
Ela contou para mãe
Que riu muito e não deu bola
Só disse deixa pra lá:
“Que esse povo só enrola”
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E assim foram seguindo
Até o vestibular
Clarisvânia estudou muito
Tudo que era para estudar
A ponto de não ter mais
O que ela decorar
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Desde Química a Poema
Português, Literatura
Gramática, Matemática
História da Ditadura
Tudo que era pra saber
Pra sua candidatura
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E na véspera da prova
Cedo ela foi dormir
O sono foi tão ferrado
Que a mãe veio sacudir
Achando que perderia
O horário de ela ir
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Clarisvânia acordou:
“Dizendo vou conseguir!”
Fique calma minha mãe
Pois preciso de dormir
Tenho que está descansada
Para não me distrair
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E no outro dia cedo
Clarisvânia foi chegando
Lá no recinto da prova
Num cantinho foi sentando
E estava bem concentrada
Quando a prova foi chegando
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E ao receber a dela
Ela botou foi pocando
Em menos de uma hora
Já estava terminando
Mas ao entregar a prova
O fiscal foi lhe falado
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...Ih!Já terminaste tudo?
Ou será que nada fez...
Do jeito que foi ligeiro
E com essa rapidez
Só sendo clarividente
“Viraste gênio de vez...”
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Clarisvânia respirou
E deu aquela resposta
Pois quem diz tudo que quer
Ouve sempre o que não gosta
E foi isso que ela disse:
“Que fazer uma aposta?”
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“Pois eu digo para ti”
Juro por Nosso Senhor
Ao sair o resultado
Lá no teu computador
Nessa hora vai lembrar
Como me satirizou”
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E assim aconteceu
Como ela tinha dito
Quando a faculdade deu
O esperado gabarito
Clarisvânia corrigiu
E saltou aquele grito
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Veja mãe, sou a primeira
A que melhor pontuou
Tô aqui, sou a da frente
Olhe no computador
Eu passei na faculdade
Nossa como eu estou!
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Eu passei foi em Direito
E vou estudar é muito
Vouvirar é promotora
Vou saber qualquer assunto
Pra quando ter injustiça
Saber como chegar junto
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Ô filha! Disse Dinalva
Tu nunca das bola fora
Se é esse teu desejo
Nós ajeita, e simbora
Mas deixa só te dizer
Vamos festejar agora!
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E foram pra Petrolina
Almoçar lá no mercado
Pois Clarisvânia queria
Comer espetinho assado
Abixinhatava alegre
Por dar conta do recado
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Quando estavam almoçando
Tranquilinhas no mercado
Clarisvâniaavistou
Um cara engravatado
Ela disse:“é o candidato
E tá vindo pra meu lado”
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Quando ele foi chegando
Veio logo cumprimentar
Dizendo:“fiquei sabendo
Passaste na Federá,
Essa menina tu botaste
Foi mesmo pra arrasar”
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Clarisvânia respondeu:
“Eu digo para o senhor
Se a pessoa se esforçar
Se ela tiver muito amor
Ela faz tudo que quer
Sem precisar de favor”
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“Eu passei na Federal
Não preciso dum tostão
Agradeço a boa vontade
A sua boa intenção
Mas eu sempre me preparo
Pra qualquer ocasião”
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E o cabra caiu fora
Sem ter nada pra falar
E elas continuaram
Alegres a conversar
Planejando, discutindo
Tinham coisas pra bolar
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Já que vinham desafios
Sonhos para conquistar
Mas isso é outra história
Pra outro folheto contar
Vamos esperar primeiro
Clarisvânia se formar
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E vem muita emoção
Ela vai se superar
Pois pra virar promotora
Vai ter muito que ralar
Mas se ela consegue isso
Muita coisa vai mudar
Fim