sábado, 25 de agosto de 2012

Clarisvânia Moça

Autor: Emanuel Cavalcanti

1

A aluna Clarisvânia

Comoveu o coração

Com a primeira história

Foi muita superação

Esta aqui é a segunda

Pra dar continuação

2

Vamos aprender um pouco

Quem sabe uma lição

Pra saber o que acontece

Com nossa Educação

Pois Clarisvânia é crítica

No seu anglo de visão

3

Certo é que a menina

Tinha um Q.I altíssimo

E continuou aprendendo

De um modo rapidíssimo

Já que foi pra o Cientifico

Um curso complicadíssimo

4

Mas Dinalva sua mãe

Muito bem dela cuidava

Ajudava nos deveres

Que a mente acompanhava

Quando era bem difícil

Ia lá e pesquisava

5

Incentivar Clarisvânia

Era a sua missão

E pra vê-la graduada

Não media esforço não

Apesar de a Dinalva

Ter só o Admissão

6

Com uma mãe desse jeito

Dando tanta educação

Clarisvânia era bem quista

Perante a população

De prefeito a faxineiro

Tinha consideração

7

A ponto de fim de ano

Nas festas de formatura

A menina ser chamada

Pra o discurso de abertura

Pois era muito famosa

Por sua desenvoltura

8

E assim tudo foi indo

Os anos passando bem

Clarisvânia nos estudos

Só tirando média cem

Mas a vida já sabemos

É cheia de vai-e-vem

9

E um dia mais ou menos

Pertinho do carnaval

Clarisvânia chega em casa

Meio fora do normal

E vai dizer a mãe dela

Um relato infernal

10

A mãe disse para a filha

É melhor se acalmar

Esfriar essa cabeça

Se não vai puder falar

Mas ela só disse, mãe

Desse jeito assim não dá

11

Eu me preparei foi muito

Pra o curso terminar

Passei noites acordada

Fui aula particular

E agora os professores

Vão tudo paralisar

12

Outra greve minha mãe

Hoje foram avisar

A partir de amanhã

A escola vai parar

Eita que notícia ruim!

Pra quem gosta de estudar

13

Eu não quero tá em casa

Sem nada para fazer

Pois eu fico só zanzando

Que é para endoidecer

É tão chato minha mãe

Tá em casa sem dever...

14

Clarisvânia estava certa

Em sua reclamação

Pois no ano anterior

Foi a mesma situação

A pobre ficou sem aula

E sem férias de verão

15

Que tristeza pra menina

Sempre tão estudiosa

Que não ficava no fundo

Pois não gostava de prosa

Clarisvânia era da frente

E não era preguiçosa

16

Mas o que a mãe falou

Foi logo para mudar

Ela disse: “Clarisvânia

Deixa esse troço pra lá

Pois na tal dessa escola

Tu não vai mais estudar”

17

“Nós vamos pra Juazeiro

Lá é grande o lugar

E vai ter escola boa

Da rede particular

Não vamos perder mais tempo

Esperando melhorar”

18

“Eu só tenho tu na vida

Não vou mais me arriscar

Esperando esse inferno

Dessas greve terminar

Comigo não tem arrego

Eu não vou mais aguentar”

19

“Amanhã vou no colégio

Pegar tua transferência

Só isso e nada mais

Não quero concupiscência

Nem escutar diretora

Mandando ter paciência”

20

“O jeito que tem é ir

Pra escola particular

Já acreditei foi muito

Que a coisa ia mudar

Mas é greve com mais greve

Isso não vai acabar”

21

E assim aconteceu

Era fim de fevereiro

Ela vendeu o que tinha

Foi bode e foi carneiro

E foram de mala e cuia

Pras banda de Juazeiro

22

Não demora muito tempo

Depois de terem chegado

Acharam escola boa

Tudo certo e ajeitado

Clarisvânia gostou muito

Disse que era organizado

23

As greves não iam ter

Isso ficou no passado

Acabou preocupação

De tá tudo atrasado

Agora era estudar

E pagar o combinado

24

Dinalva achou serviço

Numa plantação de uva

Pois era da agricultura

E caiu como uma luva

Ainda mais que era pertinho

Logo depois de uma curva

25

Assim foram acertando

Com essa nova rotina

Quando era fim de semana

Dinalva mais a menina

Atravessavam a ponte

Pra andar por Petrolina

26

Logo veio o fim do ano

Todo cheio de sacrifício

Mas a nossa Clarisvânia

Com esforço e ofício

Foi a primeira da classe

Como foi desde o início

27

Sua fama se espalhou

Mesmo na nova cidade

Era gente elogiando

A sua genialidade

Diziam: “ela é danada

Sabe com propriedade”

28

Até gente da política

Quis a ela conhecer

Esse povo não tem jeito

Já gosta de aparecer

E sóestrela brilhar

Que já vem se promover

29

Foi um certo candidato

Com cara de gente fina

Que ao saber de seu sucesso

Em tudo que é disciplina

Foi lá na escola dela

Pra falar com a menina

30

E veio com a conversa

Que só políticos têm

Essas coisas que eles falam

Quando pra eles convêm

E foi assim que ele disse:

“Minha filha tudo bem!”

31

“Daqui mais umas semanas

Vai ter o vestibular

Se você tiver a fim

Dum curso particular

“Pode deixar que os custos

Se eu ganhar vou lhe pagar”

32

Clarisvânia diz a ele:

“Desculpe lhe perguntar

Mas queriasó saber

Como vai funcionar

Pois se for com “o jeitinho”

É melhor nem me falar”

33

“Se o lance dessa bolsa

For assim de qualquer jeito

Eu não vou aceitar ela

Por eu não achar direito

Agora se for certinho

Desse jeito, eu aceito”

34

“Se todos os vereadores

Câmera municipal

Votar o seu patrocínio

Em sessão especial

Eu aceito o incentivo

Vou até achar legal”

35

“Eu gosto do que é certo

Nada fora do lugar

Mas acho que tá faltando

Primeiro o senhor ganhar

Por enquanto é só conversa

Então deixa isso pra lá”

36

O candidato a olhou

Fitou bem daquele jeito

E disse: “eita menina!

Tu é cheia dos preceito

Espera só mais um pouco

Deixa eu virar prefeito”

37

Clarisvânia deu tchaw

Dizendo vou estudar

Fazer tudo que puder

Pra mamãe eu agradar

Pra não precisar de bolsa

E não lhe incomodar

38

E depois dessa conversa

Quando voltou da escola

Ela contou para mãe

Que riu muito e não deu bola

Só disse deixa pra lá:

“Que esse povo só enrola”

39

E assim foram seguindo

Até o vestibular

Clarisvânia estudou muito

Tudo que era para estudar

A ponto de não ter mais

O que ela decorar

40

Desde Química a Poema

Português, Literatura

Gramática, Matemática

História da Ditadura

Tudo que era pra saber

Pra sua candidatura

41

E na véspera da prova

Cedo ela foi dormir

O sono foi tão ferrado

Que a mãe veio sacudir

Achando que perderia

O horário de ela ir

42

Clarisvânia acordou:

“Dizendo vou conseguir!”

Fique calma minha mãe

Pois preciso de dormir

Tenho que está descansada

Para não me distrair

43

E no outro dia cedo

Clarisvânia foi chegando

Lá no recinto da prova

Num cantinho foi sentando

E estava bem concentrada

Quando a prova foi chegando

44

E ao receber a dela

Ela botou foi pocando

Em menos de uma hora

Já estava terminando

Mas ao entregar a prova

O fiscal foi lhe falado

45

...Ih!Já terminaste tudo?

Ou será que nada fez...

Do jeito que foi ligeiro

E com essa rapidez

Só sendo clarividente

“Viraste gênio de vez...”

46

Clarisvânia respirou

E deu aquela resposta

Pois quem diz tudo que quer

Ouve sempre o que não gosta

E foi isso que ela disse:

“Que fazer uma aposta?”

47

“Pois eu digo para ti”

Juro por Nosso Senhor

Ao sair o resultado

Lá no teu computador

Nessa hora vai lembrar

Como me satirizou”

48

E assim aconteceu

Como ela tinha dito

Quando a faculdade deu

O esperado gabarito

Clarisvânia corrigiu

E saltou aquele grito

49

Veja mãe, sou a primeira

A que melhor pontuou

Tô aqui, sou a da frente

Olhe no computador

Eu passei na faculdade

Nossa como eu estou!

50

Eu passei foi em Direito

E vou estudar é muito

Vouvirar é promotora

Vou saber qualquer assunto

Pra quando ter injustiça

Saber como chegar junto

51

Ô filha! Disse Dinalva

Tu nunca das bola fora

Se é esse teu desejo

Nós ajeita, e simbora

Mas deixa só te dizer

Vamos festejar agora!

52

E foram pra Petrolina

Almoçar lá no mercado

Pois Clarisvânia queria

Comer espetinho assado

Abixinhatava alegre

Por dar conta do recado

53

Quando estavam almoçando

Tranquilinhas no mercado

Clarisvâniaavistou

Um cara engravatado

Ela disse:“é o candidato

E tá vindo pra meu lado”

54

Quando ele foi chegando

Veio logo cumprimentar

Dizendo:“fiquei sabendo

Passaste na Federá,

Essa menina tu botaste

Foi mesmo pra arrasar”

55

Clarisvânia respondeu:

“Eu digo para o senhor

Se a pessoa se esforçar

Se ela tiver muito amor

Ela faz tudo que quer

Sem precisar de favor”

56

“Eu passei na Federal

Não preciso dum tostão

Agradeço a boa vontade

A sua boa intenção

Mas eu sempre me preparo

Pra qualquer ocasião”

57

E o cabra caiu fora

Sem ter nada pra falar

E elas continuaram

Alegres a conversar

Planejando, discutindo

Tinham coisas pra bolar

58

Já que vinham desafios

Sonhos para conquistar

Mas isso é outra história

Pra outro folheto contar

Vamos esperar primeiro

Clarisvânia se formar

60

E vem muita emoção

Ela vai se superar

Pois pra virar promotora

Vai ter muito que ralar

Mas se ela consegue isso

Muita coisa vai mudar

Fim